segunda-feira, 15 de junho de 2009

Reforma Psiquiátrica produz desassistência e morte

O número de mortes de doentes mentais cresceu 41% no país nos últimos anos. No mesmo período, um quarto dos leitos psiquiátricos foi fechado, sem uma contrapartida de criação de serviços de atendimento alternativos. São dados de um preocupante indicador: à desativação de leitos e à política antimanicomial em curso — fruto de distorcida visão segundo a qual, grosso modo, deve-se acabar com a internação em hospitais psiquiátricos — não sobreveio um programa para dotar os serviços de saúde mental de condições de dar conta das demandas.

Em decorrência, vive-se um quadro dramático. Nos últimos 20 anos, o governo brasileiro fechou 70% dos leitos psiquiátricos, gerando uma economia nos gastos com a manutenção desse tipo de serviço que não se reverteu no atendimento a doentes mentais. Um estudo da Associação Brasileira de Psiquiatria aponta que, neste período, houve corte de dois terços da verba para a área, e o investimento, que era de 5,8% do orçamento do Ministério da Saúde em 1995, caiu para 2,3%, em média, nesta década.

O resultado é palpável: o país, com 16,5 milhões de doentes que precisam de internação, em vez de investir na criação de leitos e vagas na rede de saúde, optou pela contramão, ao fechar hospitais psiquiátricos. O drama, evidentemente, é potencializado nos estratos mais baixos da sociedade, que não dispõem de recursos para cuidar dos seus doentes em casa ou em clínicas especializadas.

Quem lida no dia a dia com as dificuldades de conviver com um parente que sofre de problemas mentais tem a dimensão do problema — que, expresso pelo arrolamento de números frios, se torna visível nas ruas. Incontáveis famílias, sem condições econômicas de manter seus doentes, sem ter como tratá-los e sem opções de internação, optam por abandoná-los à sorte, o que, não raro, equivale a uma condenação à morte.

Acabar com o atendimento psiquiátrico fechado pode ser um objetivo desejável. Mas isso não se faz voltando as costas para a realidade do país, da qual salta um quadro aterrador, a ser enfrentado com uma política de saúde mental responsável, em condições de fazer frente a um problema que leva o drama dos doentes psiquiátricos para o interior de milhões de famílias.

Aumentar o contencioso dos serviços públicos de saúde, com o fechamento de hospitais psiquiátricos em vez de abrir novas unidades, é medida que atende a opções ideológicas, mas passa ao largo da solução do problema.

Fonte: O GLOBO

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