sábado, 27 de junho de 2009

São Paulo aprova projeto contra bullying na rede de ensino

A Câmara de São Paulo aprovou nesta quarta-feira, 24, em segunda discussão, projeto de lei do vereador Gabriel Chalita (PSDB) que combate a prática do bullying nas escolas públicas de ensino infantil, fundamental e médio de São Paulo. O projeto segue agora para a sanção do prefeito Gilberto Kassab (DEM).

"Acredito que a principal ferramenta é a conscientização de que o problema existe. A partir do diagnóstico, da conscientização e da informação, podemos atuar de forma preventiva e apoiar os estudantes vítimas de bullying", observa o vereador tucano.

De acordo a propositura aprovada, um decreto vai regulamentar ações que serão colocadas em práticas como palestras, debates, distribuição de cartilhas de orientação aos pais, alunos e professores, entre outras iniciativas. Tudo para reforçar a conscientização sobre a importância de se combater o bullying na rede municipal.

Além disso, o projeto prevê que a secretaria Municipal de Educação faça um diagnóstico das situações de bullying, nas unidades escolares, bem como o seu constante acompanhamento, respeitando as medidas estabelecidas no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

O termo bullying surgiu nos Estados Unidos para denotar atos de violência física ou psicológica, intencionais e repetidos, praticados por um indivíduo ou grupo de indivíduos com o objetivo de intimidar ou agredir o outro.

Maiores informações: 11 7735-6311 - Assessoria do Vereador Gabriel Chalita

Para ler na Íntegra o projeto e a notícia, clique aqui.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Combate às drogas no mundo

A Organização das Nações Unidas publicou nesta quarta-feira, 24, seu relatório anual sobre as drogas. A data de publicação coincide com o Dia Mundial do Combate às Drogas, HOJE, 26.

O documento apresenta uma série de dados indicando que o combate às drogas surte efeito, ao contrário do que normalmente é dito. A produção de cocaína no mundo é a menor dos últimos cinco anos, e o enfrentamento funcionou em países como a Colômbia, o maior produtor da droga no mundo. Desde 2007 a produção de cocaína no país caiu 28%, o que o documento classifica como “impressionante”.

Segundo o diretor do Escritório de Drogas e Crime das Nações Unidas (UNODC), Antonio Maria Costa, a opção pela legalização é inexistente. “Drogas ilícitas são um perigo à saúde. É por isso que elas são, e devem continuar, ilícitas. A legalização não é uma varinha mágica que vá acabar com as máfias ou o vício”, afirmou. De acordo com ele, a política que surte efeito é o uso de inteligência e ações policiais contra os cartéis e ajuda para os usuários. “As pessoas que usam drogas precisam de ajuda médica, não de retaliação criminal”, disse.

No Brasil, chama a atenção o aumento no consumo de drogas sintéticas, como ecstasy. Esse crescimento é tendência nos países em desenvolvimento. O país também é apontado no décimo lugar entre os que mais apreendem cocaína. O relatório chama atenção para os crimes resultantes do tráfico de drogas, como a corrupção de policiais e políticos. Os países em desenvolvimento seriam os mais afetados por este tipo de crime, pois muitas instituições ainda não estariam sólidas.

Dia Mundial do Combate às Drogas

Neste ano a ONU deixou o debate mais próximo da população. Pela primeira vez é possível acessar o relatório por uma variedade de meios. O documento de 314 páginas está disponível no site da UNODC para visualização e download em PDF.

Como parte do debate, o UNODC lançou uma campanha para o Dia Mundial do Combate às Drogas. Com o tema “As drogas controlam sua vida? Sua vida. Sua comunidade. Sem lugar para as drogas”, o Escritório elaborou uma série de eventos no mundo todo.

No Brasil, do dia 19 até o dia 26 de junho, a Secretaria Nacional Antidrogas faz a Semana Nacional de Prevenção ao Uso de Drogas, em sua décima primeira edição. O portal da World Drug Campaign traz a programação completa de eventos no mundo todo. O site apresenta iniciativas positivas, como a do Peru. O país, que era nos anos 90 o maior produtor de coca, conseguiu diversificar sua produção agrícola. Apesar de registrar um aumento em sua produção de 2007, o país é um exemplo para nações como o Afeganistão, que cultiva 93% do ópio mundial.

Para baixar o documento (em inglês) e ler a notícia completa, clique aqui.

Fonte: Opinião e Notícia

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Mirtazapina pode aumentar segurança ao volante para pacientes deprimidos

Pacientes com depressão dirigem com maior segurança quando tratados com mirtazapina, um antidepressivo sedativo, de acordo com resultados no Journal of Clinical Psychiatry.

“Já foi demonstrado que determinados antidepressivos causam dano ao funcionamento psicomotor que é relevante para o desempenho ao volante”, escrevem Dr. Jianhua Shen, da University of Toronto, Ontário, Canadá, e colaboradores. Mirtazapina tem sido associada “a aprimoramentos na eficiência do sono e à preservação de sua arquitetura”, ressaltam eles. “Há relatos de que este medicamento melhora o estado de alerta durante o dia”.

“O efeito agregado da mirtazapina sobre a direção de veículos é de aumentar sua segurança”, concluem os pesquisadores. “Precisa-se de um próximo estudo comparando este medicamento com outros antidepressivos, a fim de esclarecer os possíveis mecanismos da mirtazapina, relacionados com o sono, que promovem esse efeito sobre a direção”.

Leia a notícia na íntegra, aqui.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

As melhores formas de evitar problemas mentais

Embora haja evidências de que genes ou doenças possam aumentar o risco de perda de memória, ainda há muitas formas de evitar que o cérebro envelheça.

Foi o que descobriram pesquisadores norte-americanos. Eles afirmam que os exercícios são fundamentais e dão destaque para atividades mentais e vida social.

De acordo com os pesquisadores, quanto mais tempo as pessoas estudam, menores são as chances de elas desenvolverem problemas mentais. Além disto, aqueles que não fumam também têm menos chances de desenvolverem problemas deste tipo.

Sabe-se que 53% das pessoas apresentam um pequeno declínio mental nas faixas dos 70 e dos 80 anos, e cerca de 16% desenvolvem problemas mais graves relacionados à memória e outras funções mentais à medida que envelhecem.

Fonte: Opinião e Notícia.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Aumento na prevalência de depressão em diabéticos tipo 1

Segundo dados publicados nas 69ª Sessões Científicas da American Diabetes Association (ADA), adultos com diabetes tipo 1 relatam mais sintomas de depressão e maior uso de medicamentos antidepressivos do que adultos sem a doença.

O Dr. David Maahs, aliado ao University of Colorado Health Science Center em Denver, e colaboradores avaliaram a prevalência de depressão e uso de medicamentos antidepressivos em 458 adultos com diabetes tipo 1 e 546 adultos sem diabetes.

Todos os indivíduos foram incluídos no estudo CACTI (Calcificação Arterial Coronariana no Diabetes Tipo 1), que avaliou fatores relacionados à resistência insulínica em relação à calcificação arterial coronariana em diabéticos tipo 1 assintomáticos.

Na presente análise, a depressão foi confirmada por um escore > 14 no Beck Depression Inventory II (BDI-II), e/ou uso atual de antidepressivo relatado. As complicações do diabetes foram auto-relatadas e incluíram retinopatia, amaurose, neuropatia, amputação devido ao diabetes e transplante de rim e pâncreas.

Os resultados evidenciaram que adultos com diabetes tipo 1 apresentavam chance maior que duas vezes de sofrerem de depressão do que aqueles sem a doença (odds ratio, 2,4) e quase três vezes mais chances de apresentarem um escore clinicamente significativo no BDI-II. Pacientes adultos com diabetes tipo 1 também apresentavam quase duas vezes mais chances de utilizarem medicamentos antidepressivos do que os não-diabéticos (20.7% vs. 12.1%).

Ao todo, a prevalência de indicadores de depressão em diabéticos tipo 1 foi de 32,1%, comparados aos 16,0% em não-diabéticos.

O estudo também descobriu uma associação entre depressão e complicações do diabetes. Diabéticos tipo 1 que referiram a presença de ao menos uma complicação do diabetes apresentaram escores significativamente maiores no BDI-II do que os diabéticos sem quaisquer complicações (10,7 versus 6,4).

A depressão não tratada tente a se tornar crônica ou levar a recidivas, observaram os pesquisadores em sua apresentação de pôsteres, e os médicos devem objetivar a varredura rigorosa dos pacientes com diabetes tipo 1 para depressão. Em particular, a varredura deve visar os pacientes com complicações do diabetes visto que estes possuem maior chance de apresentar os sintomas depressivos, disseram eles.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Britânicos criam novo teste para ajudar a identificar demência

Um novo teste elaborado para avaliar a agilidade mental de um paciente pode ajudar a detectar o Mal de Alzheimer com maior precisão do que os testes tradicionais, de acordo com pesquisadores britânicos.

O questionário com duas páginas pode ser preenchido pelos próprios pacientes na sala de espera de consultórios médicos ou de hospitais.

O chamado "Teste Sua Memória" (TYM, na sigla em inglês) inclui uma série de dez tarefas que têm o objetivo de avaliar habilidades-chave que podem ser afetadas pela doença, como a de copiar uma sentença, usar as palavras apropriadamente, empregar aritmética básica ou usar a memória.

Jeremy Brown, neurologista do Hospital Addenbrooke, em Cambridge, onde o teste foi desenvolvido, disse que o TYM detectou Alzheimer em 93% dos pacientes em um teste com 540 pessoas saudáveis e 139 pessoas já diagnosticadas com a doença. O teste tradicional, conhecido como Mini-Avaliação do Estado Mental (MMSE, na sigla em inglês), revelou a presença da doença em apenas 52% dos pacientes.

"É um novo teste de triagem para o mal de Alzheimer", disse Brown. "Não é um teste para diagnóstico mas poderá permitir uma triagem rápida de pacientes com problemas de memória e identificar os que precisam ser enviados para uma avaliação mais detalhada."

"O atual teste-padrão (...) vem sendo usado há 50 anos e leva cerca de oito minutos para ser concluído. Ele não é particularmente sensível para detectar o mal de Alzheimer."

O especialista acredita ainda que este teste pode ser muito mais fácil de aplicar em pessoas que não têm o inglês como língua nativa.

Entre as perguntas do TYM estão: "O que uma cenoura e uma batata têm em comum"?; "Desenhe os ponteiros para que o relógio marque 9h20"; "Em que ano a Primeira Guerra Mundial começou?"; ou "Escreva os nomes de quatro animais que comecem com a letra 'S'".

Em aritmética, pede-se que o paciente faça contas simples de adição, subtração e multiplicação.

O novo teste foi apresentado na revista BMJ Online.

Rebecca Wood, diretora executiva da ONG Alzheimer's Research Trust, disse que o novo teste é um grande passo nos esforços para identificar sinais prematuros de demência.

Wood acredita que dois terços das pessoas que desenvolveram o mal não foram diagnosticadas imediatamente.

Fonte: Psique On Line

terça-feira, 16 de junho de 2009

O poder calmante do cigarro, apesar de nocivo

Uma das justificativas comuns dos fumantes para manter o hábito é que o cigarro alivia o stress.

E parece que eles têm razão. Segundo um estudo publicado na revista Behavioral and Brain Functions, essa informação é verdadeira. A pesquisa mostra que a nicotina tem mesmo efeito calmante. No experimento, os voluntários participaram de um jogo eletrônico no qual o objetivo era enfurecê-los. Os que tinham recebido adesivos de nicotina foram menos propensos a retaliar as provocações do inimigo virtual. O efeito se explica, segundo os autores, porque a nicotina provocou mudanças no metabolismo cerebral em áreas associadas ao planejamento (córtex pré-frontal) e ao processamento de estímulos emocionais (sistema límbico).

Os resultados apóiam a hipótese de que pessoas que se irritam mais facilmente são mais suscetíveis aos efeitos da substância e, logo, estão mais propensas a se tornar dependentes do tabaco. Para os autores, essa informação é relevante para aperfeiçoar as estratégias usadas em terapias comportamentais de suspensão do tabagismo.

Segundo os especialistas, orientar ex-fumantes para gerenciar melhor sua raiva em situações críticas pode promover alterações corticais e no sistema límbico, diminuindo os efeitos da abstinência e o risco de recaídas.

Fonte: Site da Revista Mente e Cérebro

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Reforma Psiquiátrica produz desassistência e morte

O número de mortes de doentes mentais cresceu 41% no país nos últimos anos. No mesmo período, um quarto dos leitos psiquiátricos foi fechado, sem uma contrapartida de criação de serviços de atendimento alternativos. São dados de um preocupante indicador: à desativação de leitos e à política antimanicomial em curso — fruto de distorcida visão segundo a qual, grosso modo, deve-se acabar com a internação em hospitais psiquiátricos — não sobreveio um programa para dotar os serviços de saúde mental de condições de dar conta das demandas.

Em decorrência, vive-se um quadro dramático. Nos últimos 20 anos, o governo brasileiro fechou 70% dos leitos psiquiátricos, gerando uma economia nos gastos com a manutenção desse tipo de serviço que não se reverteu no atendimento a doentes mentais. Um estudo da Associação Brasileira de Psiquiatria aponta que, neste período, houve corte de dois terços da verba para a área, e o investimento, que era de 5,8% do orçamento do Ministério da Saúde em 1995, caiu para 2,3%, em média, nesta década.

O resultado é palpável: o país, com 16,5 milhões de doentes que precisam de internação, em vez de investir na criação de leitos e vagas na rede de saúde, optou pela contramão, ao fechar hospitais psiquiátricos. O drama, evidentemente, é potencializado nos estratos mais baixos da sociedade, que não dispõem de recursos para cuidar dos seus doentes em casa ou em clínicas especializadas.

Quem lida no dia a dia com as dificuldades de conviver com um parente que sofre de problemas mentais tem a dimensão do problema — que, expresso pelo arrolamento de números frios, se torna visível nas ruas. Incontáveis famílias, sem condições econômicas de manter seus doentes, sem ter como tratá-los e sem opções de internação, optam por abandoná-los à sorte, o que, não raro, equivale a uma condenação à morte.

Acabar com o atendimento psiquiátrico fechado pode ser um objetivo desejável. Mas isso não se faz voltando as costas para a realidade do país, da qual salta um quadro aterrador, a ser enfrentado com uma política de saúde mental responsável, em condições de fazer frente a um problema que leva o drama dos doentes psiquiátricos para o interior de milhões de famílias.

Aumentar o contencioso dos serviços públicos de saúde, com o fechamento de hospitais psiquiátricos em vez de abrir novas unidades, é medida que atende a opções ideológicas, mas passa ao largo da solução do problema.

Fonte: O GLOBO

domingo, 14 de junho de 2009

Um quinto dos casos de intoxicação são tentativas de suicídio

Segundo levantamento da Fiocruz, 60 pessoas por dia tentam se matar por envenamento no Brasil. Maioria dos casos envolve uso de remédios

Em um ano, mais de 20 mil pessoas tentam se matar ingerindo substâncias tóxicas. Cerca de 60% utilizam medicamentos, e o resto das tentativas dividem-se entre a ingestão de raticidas e agrotóxicos. Esses dados foram divulgados nesta segunda-feira (8) pelo Sinitox (Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas), da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

As informações são de 2007, quando foram registrados 23.243 casos de intoxicações suicidas. Isso representa 21,4% dos 108.405 envenamentos daquele ano. E dos 479 casos que terminaram em óbito, mais da metade foi notificada como suicídio. Rosany Bochner, coordenadora do Sinitox, diz que as tentativas de suicídio são um problema grave. “É uma coisa complicada de lidar, tem agente tóxico por aí que é barato, de fácil acesso e de alta letalidade, ou seja, difícil de controlar”, afirma.

Segundo Rosany, dos 37 Centros de Informação e Assistência Toxicológica espalhados pelo país, apenas uma minoria conta com psicólogos em suas equipes. “Uma pessoa que se intoxica querendo dar fim à vida, mesmo que seja curada, geralmente vai tentar de novo se não receber aconselhamento apropriado”, diz Rosany. O tratamento psicológico, afirma, é a melhor saída para diminuir o número de atentados contra a própria vida. Apesar de ser um quinto dos casos de envenenamento, o suicídio foi a causa de mais de metade das mortes.

Junto com Carlos Eduardo Estellita-Lins, pesquisador da Fiocruz, Rosany tem um projeto de estudar os casos de suicídio no Brasil, e aliar a psiquiatria ao seu trabalho. “O homem dá menos indícios de que quer se matar, mas, quando se mata, utiliza agentes tóxicos mais letais. Já a mulher demonstra maior mudança de comportamento, porém utiliza agentes menos tóxicos, como remédios”, aponta ela.

Maioria dos casos de intoxicação ocorre com medicamentos

Em 2007, o Sinitox registrou 4.355 intoxicações a menos que no ano anterior. A queda ocorreu porque menos Centros de Informação e Assistência Toxicológica forneceram dados para a pesquisa. De um total de 37 centros, apenas 29 colaboraram, dois a menos que em 2006. A falta de adesão dos centros é um problema que atinge também outras áreas de pesquisa, como a da aids, e dificulta a identificação de tendências.

Mesmo assim, algumas conclusões do relatório podem direcionar políticas de conscientização da população. Os medicamentos estão envolvidos em 30% dos casos de intoxicação, independentemente das circunstâncias. O que gera isso é a forma banal como são tratados, diz Rosany.

Por causa do descuido, a faixa etária mais atingida por agentes tóxicos é de 1 a 4 anos. “As pessoas têm cerca de 20 medicamentos diferentes em casa, muitos mal utilizados e, pior, mal guardados”, afirma. Para esses tipos de intoxicação, Rosany diz que a prevenção é possível com mais campanhas de alerta aos pais, como mensagens obrigatórias em propagandas e rótulos.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Rivotril: a tarja preta mais vendida no País

Na lista dos remédios mais vendidos no País nos últimos 12 meses, o ansiolítico Rivotril está em segundo lugar, de acordo com o Instituto IMS Health, que audita a indústria farmacêutica. O remédio perde apenas para o anticoncepcional Microvlar. Considerando apenas os medicamentos de tarja preta, ele é o primeiro da lista.

A alta no consumo de um remédio, que só pode ser vendido com retenção da receita, é assunto polêmico entre a classe médica. Especialistas ouvidos pela reportagem do Último Segundo apontam pelo menos três fatores para explicar este consumo exagerado: uma preocupação maior com a saúde mental, a falta de consciência de alguns pacientes que ignoram a recomendação médica e o despreparo de parte dos profissionais de saúde.

Segundo o psiquiatra Edson Capone de Moraes Junior, da Universidade Estadual Paulista (UNESP), o modelo médico existente, que separa corpo e mente, contribui para o aumento nas prescrições do Rivotril. “Ao invés de atuar no problema, trata-se a consequência”, diz. “Há médicos que não diferenciam quadros de depressão, ansiedade e psicose, e para todos indicam o mesmo remédio”.

O psiquiatra afirma que o Rivotril – há 35 anos no mercado - passou a ser considerado uma das opções mais “seguras” pelos médicos por ter boa tolerância no organismo. “Você não erra muito. Ele é facilmente aceito pelos pacientes”, afirma, acrescentando que, se houvesse psiquiatras para realizar o diagnóstico correto, não seria necessário tanto Rivotril.

“Alguns médicos quando se deparam com pacientes com distúrbios mentais é comum iniciarem o tratamento com um ansiolítico. Então, se não resolvem o problema, passam para um antidepressivo”, afirma.

O psiquiatra e psicanalista Plinio Montagna, presidente da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, acrescenta ainda que, graças aos “bilhões de dólares injetados na publicidade de laboratórios farmacêuticos”, hoje não existe mais o receio em tomar uma medicação para distúrbios psiquiátricos. “Existe até certa glamorização da medicação”, considera.

Uso controlado

Para o Rivotril, não há consenso sobre o tempo seguro de uso. A dependência ao medicamento varia conforme a dose e a predisposição do paciente, mas, segundo Junior, o uso não deve passar de quatro meses. “Se o paciente é extremamente ansioso não posso tratá-lo com Rivotril a vida inteira”, afirma.

O Rivotril tem cinco ações principais no organismo. Serve como anticonvulsivante para casos de epilepsia, relaxante muscular, ansiolítico, hipnótico e sedativo, sendo que, na visão de Junior, são as três últimas funções que impulsionaram as suas vendas.

A princípio, ele era divulgado entre a classe médica apenas como um anticonvulsivante, sendo os seus demais usos conhecidos e ampliados nos últimos anos.

O medicamento é da classe dos benzodiazepínicos, como Lexotan, Valium, Diazepam e Frontal, e tem como princípio ativo o clonazepam. Junior explica que a substância é absorvida pelo organismo, passa pela circulação sanguínea e age em um sistema chamado Gabaérgico, inibindo a atividade cerebral e acalmando. “Ele é um dos mais potentes. Se tiver três benzodiazepínicos concorrendo no seu cérebro, ele chega primeiro”, afirma.

No entanto, Junior esclarece que apenas para casos de epilepsia ele é usado sozinho. Em casos de depressão e transtorno bipolar, por exemplo, é apenas adjuvante e serve para complementar o tratamento principal.

“Não vivo sem”

Mas muitos ignoram o uso correto do medicamento. A funcionária pública Luana Cardoso, de 24 anos, de Porto Alegre, é um exemplo de paciente que não segue o prescrito pelo médico. Ela afirma que toma Rivotril há seis anos “entre idas e vindas” e "faz de conta que segue as recomendações médicas", mas, na verdade, administra do seu jeito.

Após ter tido uma Síndrome do Pânico, o psiquiatra recomendou que tomasse dois comprimidos de Rivotril por dia, um pela manhã e outro à noite. Mas Luana só faz isso de segunda à quinta-feira. Aos finais de semana, não toma para poder ingerir bebida alcoólica. “Minha família toda usa Rivotril e como já vi o que acontece com quem usa e bebe prefiro não arriscar”, afirma. O medicamento potencializa o efeito do álcool e, em doses muito altas, pode levar ao coma. “O médico sempre diz que não o engano, só estou me enganando, mas não vou viver mais ou menos por causa de um remédio”, diz.

Um dos sinais de tolerância do corpo ao remédio é precisar de doses cada vez maiores para alcançar o efeito desejado, além do que o psiquiatra Junior chama de “necessidade subjetiva” do uso da substância. “Antes, o paciente tomava quando estava muito nervoso. Depois, a qualquer sinal de ansiedade”, afirma.

O estudante V.G.A, de 23 anos, é um dos que diz não conseguir mais viver sem o remédio. Começou a tomar há três anos por indicação do médico, após ter um surto psicótico, provocado, principalmente, segundo ele, pelo uso assíduo de maconha. “Era uma pessoa ansiosa e tinha sintomas de depressão, mas a cannabis mascarava isso”, considera.

Após o surto, quando V.G.A afirma que teve “pensamentos absurdos e mania de perseguição”, o médico o receitou um antidepressivo e 6 gotas de Rivotril por dia. “Hoje estou tomando 25 gotas por conta própria, à noite. Não durmo caso não tome. Me considero viciado”, conta.

O bancário e estudante de psicologia Danilo Perucci, de 22 anos, também não vive sem o remédio. Ele procurou um psiquiatra após ficar com insônia por problemas familiares. Para o sono, recebeu uma caixinha de Rivotril. Hoje, admite que faz um uso “cíclico” do medicamento, toma seis meses e para seis, sem seguir qualquer recomendação. “Uso por conta própria, só retorno para pegar outra receita”, confessa.

Perucci, que se diz “dependente psicológico” do remédio, afirma que nunca teve problemas para conseguir novas cartelas. “Eu vario entre três psiquiatras do meu plano de saúde que me receitam Rivotril sem muitas perguntas”, conta.

Saúde em risco

A partir de dois meses, médicos dizem que o uso deve estar sob constante monitoramento. Além da dependência química, que é o maior dos riscos e pode ser irreversível, o uso contínuo por anos pode causar perda de memória, irritabilidade e até mesmo depressão. Durante a gravidez, pode até mesmo causar aborto. “Como todos os sedativos do sistema nervoso central, em doses muito altas podem causar sonolência, reflexos diminuídos, confusão, coma, parada respiratória e, no extremo, morte. Mas as doses precisam ser muitíssimo altas”, acrescenta Montagna.

Para quem resolve parar com Rivotril o caminho nem sempre é fácil. O estudante de direito Luiz Roberto Blum, de 26 anos, demorou seis meses para conseguir. “Um psiquiatra me disse: ‘pare de tomar hoje’, mas eu não consegui ficar um dia sem. Tive sintomas de pânico e náuseas”, revela.

Aos poucos, Blum conseguiu substituir o remédio por outro ansiolítico, mas demorou seis meses para conseguir parar completamente. “O médico sempre me dizia para tomar somente quando necessário, o problema era que eu sempre achava necessário”, lembra.

Ansiedade necessária

De acordo com psiquiatras, a linha que separa a ansiedade natural daquela que deve ser tratada é delicada e, caso não seja avaliada com cuidado, o paciente corre o risco de eliminar emoções importantes para o desenvolvimento da mente. “Certo grau de ansiedade é necessário e inerente à condição humana”, afirma Junior.

Montagna completa que a ansiedade funciona como propulsora da ação e do pensamento. “É uma espécie de combustível para o funcionamento do ego. Podemos compará-la com a tensão das cordas de um violão. Se estão muito frouxas, não sai música. Se muito estiradas, podem até romper-se e também não haverá música. Num grau de tensão ótimo, aí, sim, podemos extrair música”, explica.

Mesmo quando considerada uma doença, os especialistas concordam em dizer que nem sempre o tratamento com remédios é a melhor opção. É preciso verificar os motivos que estão causando a ansiedade e atuar neles. “Muitas pessoas acham que tomando drogas de última geração estão sendo bem tratadas, mas, muitas vezes, é preciso diminuir as dosagens para que o paciente tenha outra dimensão do que acontece. A psicanálise pode ser bastante útil nesses casos”, completa Montagna.

Ranking dos medicamentos mais vendidos no País

Até Março de 2009
Microvlar
Rivotril
Puran T-4
Hipoglos Nf
Buscopan Composto
Neosaldina
Salonpas
Novalgina
Ciclo 21
10° Sal De Eno
2008
Microvlar
Rivotril
Puran T-4
Hipoglos Nf
Neosaldina
Buscopan Composto
Salonpas
Tylenol
Novalgina
10° Ciclo 21
2004

Microvlar
Neosaldina
Hipoglos Nf
Buscopan Composto
Novalgina
Rivotril
Tylenol
Cataflam
Neovlar
10° Luftal
Fonte: Último Segundo

quinta-feira, 11 de junho de 2009

EUA divulgam lista de remédios suspeitos de causar danos à saúde

A partir de agora, a agência americana que regula remédios e alimentos (FDA, na sigla em inglês) vai divulgar trimestralmente a relação de medicamentos suspeitos de provocar danos à saúde. Da primeira lista, a maioria é comercializada no Brasil.

A agência americana que regula remédios e alimentos (FDA) decidiu divulgar a cada três meses a lista de remédios suspeitos de provocar danos à saúde. A primeira relação, com 20 medicamentos, foi apresentada na última sexta-feira (confira a tabela ao fim do texto). São drogas que já estão no mercado, mas cuja segurança está sendo reavaliada. A FDA decidiu investigá-las depois de receber relatos de problemas comunicados por médicos, pacientes e pela indústria farmacêutica.

A FDA divulgará os nomes dos produtos e o tipo de efeito adverso observado. Não tornará público o número de reclamações recebidas nem a gravidade dos problemas observados. Remédios que aparecem na lista não são necessariamente inseguros – pelo menos nessa etapa da investigação. Em alguns casos, os problemas observados não são provocados propriamente pelas substâncias – e sim por embalagens e bulas confusas que podem levar ao consumo excessivo dos remédios.

No ano passado, a agência recebeu 482 mil relatos de reações potencialmente relacionadas ao uso de remédios. A maioria, segundo as autoridades, eram alarmes falsos. Não foi comprovada a relação entre os problemas relatados e as drogas usadas pelos pacientes. Nos últimos anos, a FDA vem sendo muito criticada pela demora em alertar a população sobre riscos potenciais de algumas drogas. A mudança é uma reação a essas críticas.

A novidade pode produzir dois efeitos: um bom e outro ruim. Ao alertar o público precocemente sobre problemas relacionados a determinados remédios, a agência pode evitar que mais pessoas sejam prejudicadas pelo medicamento. Mas a divulgação trimestral da lista pode provocar pânico. Muita gente pode deixar de tomar os remédios por conta própria – antes mesmo que fique comprovado que eles expõem a população a riscos. Nesse caso, a interrupção do tratamento pode ser tão ou mais nociva do que os potenciais efeitos adversos.

Divulgaremos neste blog apenas os remédios psiquiátricos sob investigação. Os dois medicamentos são vendidos no Brasil:

PRODUTO - RISCO POTENCIAL SOB INVESTIGAÇÃO

Cymbalta - Retenção urinária
Seroquel - Embalagem pode provocar confusão


*Cymbalta (duloxetina): antidepressivo
*Seroquel (quetiapina): antipsicótico

Para ver a lista completa de medicamentos, clique aqui.

Fonte: Revista ÉPOCA

quarta-feira, 10 de junho de 2009

A nova onda dos remédios para o cérebro

"Maurício não é um workaholic. Engenheiro de 40 anos, gerente de uma seguradora, ele acredita que a esta altura da vida tem direito a aproveitar suas horas livres nas baladas, viagens, leituras, esportes e namoros. É por isso que ele toma Ritalina, um remédio indicado para portadores de síndrome de deficit de atenção (TDAH). Maurício não sofre de deficit de atenção. Mas diz que, quando toma a droga, sua capacidade de concentração aumenta e ele trabalha seis horas sem intervalos. “Sou chefe de 40 funcionários e preciso funcionar a qualquer custo.”

Maurício (o nome é fictício, para proteger sua identidade) diz tomar Ritalina apenas uma vez por semana, quando seus prazos para a entrega de relatórios apertam. Ele afirma que a droga o ajuda a encarar planilhas recheadas de números, elaborar relatórios com rapidez e falar com desinibição em reuniões. “Como me recuso a trabalhar mais de nove horas por dia, preciso render mais nesse tempo.” Ritalina é um remédio de tarja negra. Deveria ser consumido apenas por pessoas que precisam dele e têm uma receita médica para provar isso. Mas conseguir a receita não é muito difícil. Maurício obteve a sua de um amigo psiquiatra. Outros usuários pesquisam os sintomas conhecidos do deficit de atenção, marcam consulta com um psiquiatra e dizem sentir aquilo. Alguns compram cartelas de amigos. Ou pela internet.

A Ritalina – que atua como um estimulante do sistema nervoso central – está longe de ser a única droga usada para incrementar a eficiência do cérebro. Há milênios o ser humano testa receitas de vários tipos. Entre aquelas em voga hoje está o Gingko biloba (uma erva de origem chinesa que supostamente melhora a circulação de sangue no cérebro e a transmissão de impulsos entre os neurônios), a cafeína (um estimulante que melhora a concentração), a nicotina e diversas anfetaminas. Também vem ganhando adeptos no mundo um estimulante genericamente conhecido como modafinil, desenvolvido para tratar narcolepsia (uma sensação de sonolência exagerada). O modafinil, assim como o café, restaura o desempenho cognitivo em pessoas com sinais de fadiga.

Segundo uma recente pesquisa da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, cientistas de diversos laboratórios estão trabalhando em mais de 600 drogas para distúrbios neurológicos. A maioria delas deverá ser reprovada pelos órgãos reguladores de saúde, mas é provável que muitas estejam em farmácias do mundo inteiro nos próximos anos. Cada uma dessas drogas mexe com algum dos processos químicos que regulam a atenção, a percepção, o aprendizado, a memória recente, a memória de fundo, a capacidade de tomar decisões, a linguagem. Espera-se que, com elas, pacientes com deficiências como Alzheimer, demência ou deficit de atenção consigam levar uma vida mais próxima do normal. Mas remédios desse tipo costumam atrair um mercado bem além do seu público-alvo original.

“O uso das drogas psicoativas por indivíduos saudáveis vai se tornar um evento crescente em nossa vida”, disse o pesquisador Gabriel Horn, que liderou a pesquisa de Cambridge. Foi o que aconteceu, por exemplo, com o Viagra e seus congêneres."

Fonte: Revista ÉPOCA

terça-feira, 9 de junho de 2009

Testes mascaram ineficácia de antidepressivos

Estudo publicado no American Journal of Psychiatry mostra que a forma como as companhias farmacêuticas conduzem seus testes clínicos transmite uma expectativa otimista demais para o tratamento da depressão

Depois de uma década em que os antidepressivos ganharam enorme popularidade no mundo ocidental – chegando a registrar um aumento de venda de 42% entre 2003 e 2007 no Brasil e de 48% entre 1995 e 2002 nos Estados Unidos –, a eficácia desses remédios está sendo questionada por vários estudos em publicações médicas, segundo os quais boa parte dos benefícios advém do efeito placebo e alguns dos medicamentos mais famosos parecem funcionar apenas em graus leves de depressão. Em meio a esse quebra-cabeça de informações, uma pesquisa publicada em abril no American Journal of Psychiatry contribuiu com uma peça fundamental para esclarecer por que é crescente a impressão de que os antidepressivos não são tão eficazes: eles são testados em um grupo limitadíssimo de pacientes, que não representa uma fração significativa do mundo real.

A eficácia dos antidepressivos prevista nas bulas é medida por testes clínicos realizados pelas empresas farmacêuticas e que servem como base para a criteriosa Food and Drug Administration (FDA), a vigilância sanitária dos EUA, aprovar sua venda. Os testes, segundo o estudo, são bastante restritos quanto à escolha dos pacientes e acabam excluindo pessoas com comorbidades, ou seja, que sofrem de duas doenças ao mesmo tempo. Não participa, por exemplo, quem tem depressão e problemas cardíacos, ou mesmo depressão combinada com outras doenças psiquiátricas, como distúrbios de ansiedade. Partindo do princípio de que os testes são pouco representativos, o novo estudo, realizado por 11 pesquisadores liderados por Stephen Wisniewski, da Universidade de Pittsburgh, mostrou que esse aspecto mascara a eficácia dos antidepressivos, ou a falta dela.

“O que nós fizemos foi prescrever o mesmo tratamento dos testes em uma população que sabíamos ser mais abrangente”, disse Wisniewski a ÉPOCA. “E os resultados mostraram grande diferença”, afirma. A base para o estudo foi o projeto STAR*D, sigla de Alternativas de Tratamento Sequenciado para Aliviar a Depressão, financiado pelo governo americano e que coletou dados de 41 instituições psiquiátricas entre 2001 e 2004. Entre os excluídos estavam apenas mulheres grávidas e pessoas com distúrbios convulsivos e outras doenças agudas. Após a avaliação do perfil dos pacientes do STAR*D, surgiu a primeira descoberta significativa – 77,8% deles não poderiam participar dos testes feitos pela indústria farmacêutica.

Os pacientes, em seguida, foram divididos em dois grupos. O grupo de “não-eficácia” era formado pelas pessoas que teriam sido excluídas dos testes mais rígidos e o outro, da “eficácia”, tinha os 22,2% que passariam no filtro da indústria farmacêutica. Submetidos ao mesmo tratamento, com o Citalopram, um antidepressivo inibidor de recaptação de serotonina vendido no Brasil com os nomes comerciais de Cipramil, Procimax, Citta, Alcytam e Maxapran, os grupos tiveram resultados muito diferentes. O grupo de “eficácia” teve melhora em 51,6% dos casos, e o de “não-eficácia”, além de responder ao tratamento com mais demora, registrou melhoras em apenas 39,1% dos casos. Desta forma, dizem os pesquisadores no estudo, “a conclusão sugere que os testes atuais têm um resultado mais otimista do que é provável na prática e a duração do tratamento sugerida pode ser muito pequena”.

Assim, diante desses resultados, surge a questão: o que leva as indústrias farmacêuticas a fazerem testes tão restritos? Segundo Wisniewski, é o custo médico que testes mais abrangentes teriam. “Os resultados mostraram que o grupo de “não-eficácia” também teve uma taxa maior de efeitos colaterais graves”, afirma. “Se as empresas fizerem testes em grupos mais abrangentes, elas vão colocar um número maior de pessoas sob esse risco”, diz. “Um cenário possível, por exemplo, é um paciente entrar em um estado maníaco com a administração do medicamento."

Assim, enquanto a indústria farmacêutica não cria uma nova geração de antidepressivos, ou ao menos um método para ampliar a base de suas pesquisas sem aumentar o risco de efeitos colaterais graves, resolver esse problema fica a cargo dos médicos que vão prescrever esse tipo de medicamento. “Eles devem saber em qual população o remédio foi testado para ganhar a aprovação da FDA antes de passar o tratamento”, diz. “É preciso verificar se o paciente pode ser incluído nesse universo e, aí sim, o médico apresentaria as probabilidades mais realistas de resultados e de tempo de tratamento para o paciente”, afirma.

Os antidepressivos são um avanço extraordinário, diz o psiquiatra paulista Renato Del Sant, diretor do Hospital Dia do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas. “Mas, para receitá-los, é preciso uma avaliação longa e precisa. Hoje, os psiquiatras estão mais preocupados em acompanhar os avanços da neurociência do que em se debruçar no histórico do paciente, muitas vezes até por falta de tempo. Por isso, o diagnóstico está cada vez mais superficial.”

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Maior parte de adolescentes americanos com depressão não está sendo tratada

Nova pesquisa demonstra uma proporção significativa de adolescentes americanos com depressão que não está sendo tratada.

Com base em uma pesquisa de âmbito nacional realizada em 2007, uma publicação da Substance Abuse and Mental Health Services Administration (SAMHSA) demonstra que adolescentes sem seguro saúde apresentavam uma probabilidade de obter tratamento menor do que a metade daqueles cobertos por Medicaid/Children's Health Insurance Program (CHIP) ou por planos de saúde particulares.

Além disso, a pesquisa revela que 8,2% (dois milhões) dos adolescentes entre 12 e 17 anos de idade sofreram, pelo menos, um episódio de depressão maior (EDM), no ano anterior. Somente 40% destes receberam tratamento, de acordo com o relatório da SAMHSA.

“Esta publicação contribui com a crescente conscientização de que se precisa fazer muito mais para suprir as enormes necessidades relacionadas com a saúde mental de nossos jovens”, disse o administrador suplente da organização, Eric Broderick, DDS, em uma declaração.

“Este relatório, juntamente ao decreto do Mental Health Parity and Addiction Equity Act e à recente e marcante publicação do National Research Council and Institute of Medicine sobre saúde mental infantil, destaca a crescente preocupação e o compromisso da nossa nação em atenuar o prejuízo e o sofrimento gerados pelo não tratamento de transtornos mentais para as crianças, assim como para suas famílias e comunidades”, acrescentou ele.

A publicação também evidenciou que a cobertura por seguro saúde foi o que mais determinou se os adolescentes com, no mínimo, um episódio de depressão maior recebiam ou não tratamento, no último ano. Entre os indivíduos nesta faixa etária, aqueles não cobertos apresentavam probabilidade muito menor de serem tratados (17,2%), do que aqueles com cobertura por Medicaid/CHIP (42,9%) ou por planos de saúde particulares (40,6%).

O relatório revelou ainda que, entre os adolescentes tratados:

* 58,8% viram ou conversaram com um orientador.
* 36,8% viram ou conversaram com um psicólogo.
* 27,3% viram ou conversaram com um psiquiatra ou com um psicoterapêuta.
* 26,6% viram ou conversaram com um clínico geral ou com um médico de família.

O trabalho foi elaborado a partir da pesquisa National Survey on Drug Use and Health de 2007, que coletou dados de uma amostra representativa de, aproximadamente, 22.000 adolescentes por todos os Estados Unidos.

Fonte: Med Center

domingo, 7 de junho de 2009

Aprovada lei de discriminação contra pessoas que sofrem de doenças mentais

Foi aprovado recentemente o projeto de Lei da Dep. Érika Kokay:

Projeto de Lei - PL-854/2008

Estabelece aplicação de sanções aos que praticarem, no âmbito do Distrito Federal, atos de discriminação contra as pessoas cometidas de transtorno mental.

Art. 1°. Serão aplicadas sanções às pessoas físicas e jurídicas que, por qualquer meio ou forma, praticarem atos de discriminação em relação às pessoas acometidas de transtorno mental.

Parágrafo único. Considera-se acometida de transtorno mental, para os fins desta Lei, a pessoa que, diagnosticada e tratada em psiquiatria, ou não, demonstrar comportamento singular e diferenciado daquele considerado socialmente adequado.

Para ler o projeto de lei completo, baixe-o aqui.

Programa na TV Brasil

Iracema Polidoro foi convidada à participar de um programa "De Lá Prá Cá", 3 a 1 na TV Brasil, às 22:00h, no dia 10/06/2009 como representante do Movimento da Luta Antimanicomial e contará com participação do poeta Ferreira Gullar e a Diretora do Pinel, Drª. Silvana Ferreira.

Iracema Polidoro é familiar de doente mental há muito respeitada por sua luta em defesa dos usuários de saúde mental. Ela é presidente da Associação de Parentes e Amigos dos Pacientes do Complexo Juliano Moreira (Apacojum).

Não Percam!

sábado, 6 de junho de 2009

Mais Informações sobre o Prêmio Cultural Loucos pela Diversidade

Premiar iniciativas artísticas culturais inovadoras, com foco em fortalecer e dar visibilidade ao trabalho que vem sendo realizado por pessoas, grupos, organizações ou instituições envolvidas com aqueles que têm algum sofrimento psíquico, é o objetivo do primeiro Prêmio 'Loucos pela Diversidade - edição Austregésilo Carrano'. O edital, que contemplará 55 trabalhos, é uma iniciativa da Secretaria da Identidade e da Diversidade Cultural, do Ministério da Cultura, e do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Saúde Mental e Atenção Psicossocial (Laps/ENSP/Fiocruz), coordenado pelo pesquisador da Escola Paulo Amarante. As inscrições vão até o dia 13 de julho de 2009.

O edital, lançado no dia 12 de maio pelo Ministério da Cultura durante o Encontro Internacional Reformas Psiquiátricas e Transformação Cultural no Brasil e no Mundo: 30 anos da Lei Franco Basaglia - que aconteceu em Salvador (BA) - homenageia nesta primeira edição Austregésilo Carrano, um escritor brasileiro, integrante do Movimento da Luta Antimanicomial e autor do livro 'Canto dos Malditos' em que narra sua experiência nos hospitais psiquiátricos e denuncia os absurdos cometidos diariamente nessas instituições. O livro deu origem ao filme 'Bicho de Sete Cabeças'.

Paulo Amarante explica que o edital entregará 55 prêmios entre individuais e coletivos, totalizando o valor de 675 mil reais, por meio de patrocínio da Caixa Econômica Federal. "Esse projeto busca reconhecer iniciativas de artes produzidas por pessoas com algum tipo de sofrimento mental", destacou o pesquisador. O edital é uma das decorrências práticas mais importantes da 'Política Nacional Loucos pela Diversidade', criada a partir do seminário realizado na ENSP, em agosto de 2007, com a participação do então ministro da Cultura, Gilberto Gil.

O edital é dividido em quatro categorias: Iniciativas públicas; organização da sociedade civil; grupos autônomos; e pessoa física. Será adotado pelo edital o critério da regionalização, permitindo, assim, a premiação de todas as regiões brasileiras. Serão destinados cinco prêmios para a região Norte, cinco prêmios para a região Nordeste e cinco prêmios para a região Centro-Oeste, ao menos.

Para a escolha dos vencedores, será constituída uma comissão julgadora com artistas da área, e a perspectiva de Paulo Amarante é que a entrega do prêmio aconteça no dia 10 de outubro, Dia Mundial da Saúde Mental, durante solenidade na Caixa Cultural, localizada no Centro do Rio de Janeiro.

A íntegra do edital, bem como as fichas de inscrição e modelo de autorização de veiculação da obra criada estão disponíveis em formato pdf. Todo o material deverá ser enviado para o Laboratório de Estudos e Pesquisas em Saúde Mental e Atenção Psicossocial (Laps/ENSP/Fiocruz), responsável pelo concurso.

Para ler o Edital e inscrever-se, acesse clique aqui e vá em Anexos, no final da página.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Prêmio Cultural Loucos pela Diversidade

O Ministério da Cultura, representado pela Secretaria da Identidade e da Diversidade Cultural, em parceria com o Ministério da Saúde, representado pela Fundação Oswaldo Cruz - Fiocruz, por meio do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Saúde Mental [LAPS] e a Caixa Econômica Federal [CEF] lançaram o edital do I Prêmio Cultural Loucos pela Diversidade 2009 - Edição Austregésilo Carrano.

O anúncio fez parte do debate Loucura e Cultura que faz parte da Semana da Luta Antimanicomial, que neste ano tem como tema ‘Inclusão e Diver-Cidade’. O edital tem como objetivos promover uma nova visão de política cultural e da política de saúde mental onde o respeito à identidade e à diversidade constroem um país mais democrático no sentido de incluir, socializar, descentralizar e potencializar a todos o direito à criação e à produção cultural, promover e garantir o protagonismo das pessoas em sofrimento psíquico na construção das políticas públicas de cultura, na criação e produção cultural, entre outro que promovam a inclusão, a emancipação, a autonomia e o direito à cidadania de indivíduos em sofrimento psíquico.

Serão premiadas 55 iniciativas, divididas em quatro categorias. A primeira destinará sete prêmios para instituições públicas que atuam na interface saúde mental e cultura; na segunda oito prêmios serão destinados para organizações da sociedade civil, instituições privadas, entidades e associações sem fins lucrativos. A terceira categoria reservará 20 prêmios a grupos de pessoas sem vínculo institucional que tenham ou tenham tido vínculo como usuários de instituições ou serviços de saúde mental que desenvolvam atividades artístico-culturais.

As 20 premiações restantes serão destinadas para pessoas em sofrimento psíquico que tenham ou tiveram vínculo com instituições ou serviços de saúde mental que desenvolvam atividades artístico-culturais individualmente.

Nas categorias em que a premiação será destinada a instituições ou grupos de pessoas o valor será de R$ 15 mil, já para o prêmio individual o repasse será de R$ 7,5 mil. Cada candidato poderá inscrever-se em somente uma categoria e com até três iniciativas artísticas culturais. As inscrições podem ser feitas até o dia 13 de julho

Informações no site www.cultura.gov.br, pelo telefone (61) 3316-2129, SID/MinC, e (21) 2260-5999 ou pelo correio loucospordiversidade@fiocruz.br, na Fiocruz.


quinta-feira, 4 de junho de 2009

Transtorno bipolar está relacionado a taxas mais altas de mortalidade por suicídio e doença cardiovascular

Pacientes com transtorno bipolar sofrem de taxas mais altas de suicídio bem como mortalidade por doenças do sistema circulatório e têm maior risco de infecção pelo HIV, asma, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e condições neurológicas como migrânea, de acordo com uma série de estudos apresentados no 162­º encontro anual de 2009 da American Psychiatry Association (APA).

Os estudos fizeram parte de um esforço realizado pela Spanish Society of Psychiatry para desenvolver consensos sobre a saúde física do paciente com transtorno bipolar, de acordo com Dr. Fernando Rico-Villademoros, da University of Alcalá, em Madri, Espanha.

“Um dos nossos achados mais importantes foi que, assim como suicídio, pacientes com transtorno bipolar têm taxas mais altas de mortalidade devido à doença cardiovascular. Entretanto, não existem dados fortes de que eles sofram de câncer em taxas maiores do que a população geral”, disse Dr. Rico-Villademoros à Medscape Psychiatry.

“As razões para taxas mais altas de morte por doença cardiovascular são multifatoriais – e provavelmente ocorrem devido às medicações que os pacientes tomam bem como ao estilo de vida”, ele acrescentou.

Taxas mais altas de doença cardio e cerebrovascular

Nos estudos, os pesquisadores buscaram na literatura publicada de 1966 a janeiro de 2008, mas limitaram-se a trabalhos publicados em inglês e espanhol.

Este estudo avaliou pesquisas que relatavam a mortalidade por todas as causas e por causa específica. Três outros estudos sobre câncer e infecção pelo HIV, comorbidades neurológicas, cardiovascular e respiratória incluiram trabalhos com um tamanho amostral de 30 ou mais pacientes, mas excluiu aqueles que avaliaram o efeito das comorbidades associadas a um tratamento especifico do transtorno bipolar, tal como lítio ou antipsicóticos. Os estudos não incluíram uma meta-análise e somente forneceram resultados descritivos sobre os estudos primários encontrados na busca literária.

No estudo sobre mortalidades, os pesquisadores observaram que a razão padronizada de mortalidade para suicídio em pacientes com transtorno bipolar variou de 8 a 20. Uma razão padronizada de 1 é uma taxa de mortalidade considerada igual a da população de referência. Pacientes com transtorno bipolar também morreram de doenças do sistema circulatório – incluindo doença cardio e cerebrovascular – em taxas maiores do que a população em geral, e 2 estudos mostraram uma taxa de mortalidade maior devido à infecção.
Em um estudo que avaliou as comorbidades cardiovasculares e cardiorrespiratórias, os pesquisadores mostraram que o transtorno bipolar esteve associado às taxas maiores de asma e DPOC, e menos consistentemente com uma taxa aumentada de hipertensão. Não houve associação entre o transtorno bipolar e derrame.

Achado sobre migrânea é difícil de explicar

Outro estudo sobre as comorbidades neurológicas observou que pacientes com transtorno bipolar pareciam sofrem de incidência aumentada de migrânea comparado com a população em geral – um achado que é difícil de explicar, disse Dr. Rico-Villademoros.

Também houve uma associação entre transtorno bipolar e demência; um achado que os pesquisadores disseram que devia ser investigado mais profundamente. Entretanto, devido ao número limitado de estudos avaliando estas anormalidades neurológicas – 21 ao todo – eles também observaram que os achados sobre esses riscos devem ser interpretados com precaução.

Os pesquisadores também observaram que o risco de câncer e infecção pelo HIV e encontraram um número limitado de estudo sobre esses pacientes – 5 sobre morbidade do câncer e 8 sobre infecção do HIV. Embora seus dados não sejam conclusivos, eles observaram que o transtorno bipolar pode estar associado a uma taxa maior de HIV, mas não câncer.

Quando juntas, as pesquisas apontam a importância de se avaliar os fatores de risco para comorbidades em pacientes com transtorno bipolar, incluindo fatores risco de doença cardiovascular, e aqueles para infecção, incluindo uso de drogas, disse Dr. Rico-Villademoros.

“Embora nós sempre nos concentremos no suicídio, é importante levar em consideração outros fatores”.

Os dados sustentam a experiência clínica

“Esses estudos são completamente coerentes com o ponto de vista da maioria dos clínicos – e é bom ter dados para apoiar nosso conhecimento sobre os riscos de suicídio, bem como sobre doença cardiovascular em pacientes com transtorno bipolar” comentou Dr. David Baron, da Temple University School of Medicine, Philadelphia, Pennsylvania, e membro do comitê do programa científico da APA.

“O estudo sobre mortalidade ressalta a verdade de que a doença psiquiátrica é um transtorno que ameaça a vida. Muitas pessoas acham que aqueles com transtorno bipolar são só tristes ou maníacos, mas esta realmente é uma doença biopsicossocial”, Dr. Baron acrescentou.


Fonte: Med Center

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Lítio na água pode prevenir suicídios

Um estudo realizado no Japão indica que a ocorrência de níveis ligeiramente mais altos de lítio na água potável está relacionada a taxas mais baixas de suicídio na população. O lítio, elemento químico facilmente encontrado na natureza, é também usado como medicamento no tratamento de distúrbios de humor, particularmente do transtorno bipolar. Uma pesquisa anterior (1990) já havia sugerido que concentrações mais altas da substância na água potável que abastece determinadas localidades se correlacionavam com incidências mais baixas de crimes e tentativas de suicídio. No estudo que acaba de ser publicado no The British Journal of Psychiatry, psiquiatras da Universidade de Oita observaram efeito semelhante.

Oita é uma região administrativa do Japão formada 18 municípios, com uma população total de 1,2 milhão de habitantes. A concentração de lítio na água potável que abastece essas cidades é muito baixa, mas bastante variável (entre 0,7 e 59 microgramas/litro), o que permitiu detectar taxas de mortalidade por suicídio significativamente menores onde a concentração do elemento na água era maior.

Os resultados do estudo suscitam questões eticamente delicadas. Já que baixíssimas concentrações de lítio aparentemente não têm conseqüências para as pessoas saudáveis, seria aceitável suplementar a água potável de populações inteiras para diminuir o risco de suicídio em um pequeno grupo de pessoas com transtorno de humor? Segundo os autores, ainda é cedo para se pensar nisso; mais estudos são necessários para se avaliar os possíveis custos e benefícios de tal medida.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Ela não queria que a filha "salvasse o mundo"

As tentativas de uma mãe para internar a filha adolescente, que tinha transtorno bipolar e comportamento suicida, mostram como a redução de leitos psiquiátricos deixou muitos brasileiros sem assistência.

A pedagoga Heloísa Bergamo tinha em mãos duas cartas de psiquiatras pedindo a internação de sua filha, Jacqueline, de 14 anos. Era outubro de 2005 e durante quatro dias Heloísa percorrera hospitais de São Paulo em busca de uma vaga. Havia quase um ano e meio que ela espreitava 24 horas por dia os pensamentos da filha. Na medida em que isso é possível – e em que só as mães são capazes. Em junho de 2004, a menina alegre, cheia de amigos e que estava aprendendo a tocar viola e pandeiro começara a mudar de comportamento. Tornou-se fechada. Não queria mais ir à escola. Dizia que ninguém gostava dela. Eram os primeiros sintomas do transtorno bipolar, um distúrbio psiquiátrico em que a pessoa alterna momentos de euforia ou irritação com depressão profunda. É durante essas variações de humor, causadas por um desequilíbrio na química cerebral, que até 30% dos doentes tentam tirar a própria vida. Metade acaba conseguindo.

Heloísa sabotara todos os planos de Jacque de “salvar o mundo”. Era essa frase que a adolescente repetia quando mais uma crise começava, em uma lógica que talvez nem ela mesma entendesse.

Heloísa impedira as tentativas de Jacque de saltar do carro em movimento. Seu lugar era no banco da frente, ao lado da mãe, que dirigia vigiando o fecho do cinto de segurança. Interceptara as incontáveis corridas da filha de sua casa, no centro de São Paulo, em direção à Avenida Nove de Julho, uma das mais movimentadas da cidade. Nos carros e ônibus que passam em alta velocidade, Jacque via uma oportunidade de “salvação”. No apartamento recém-alugado pela família, o encanto de Jacque - como aquele dos marujos pelas sereias, explica a mãe - era pelas janelas. As redes de proteção, cuidadosamente instaladas nas janelas do apartamento no quinto andar, eram para Jacque a cera que o herói da mitologia grega Odisseu colocou nos ouvidos para não sucumbir aos encantos das sereias.

A internação era a última alternativa para impedir que Jacque “salvasse o mundo”. Heloísa já não conseguia conter a filha fisicamente. Jacque estava crescendo. Heloísa, enfraquecendo, esgotada com a dedicação integral à filha. Acumulava sozinha a administração de sua escola infantil e os cuidados com as filhas, Jacque e Aline, de 15 anos. Não contava com a ajuda diária do ex-marido nem da mãe, paralisada por um acidente vascular, e do pai, que sofre com um enfisema pulmonar. Os dias de trabalho eram precedidos por noites sem dormir, tentando impedir que a filha fugisse, arranhasse o rosto, se ferisse com um garfo, uma caneta ou que estivesse à mão.

A médica que atendia Jacque havia mais de um ano no Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo pediu sua internação. Não adiantou. Na carta de 18 de outubro de 2005, dirigida a outro médico que viesse a atender Jacque, a explicação. “Optamos por interná-la, porém, sem vaga”. Heloísa saiu do hospital com a carta em uma mão, segurando a filha com a outra e sem saber para onde ir. “Com minha filha se debatendo e querendo fugir, como eu poderia ficar perambulando de hospital em hospital à procura de internação?”. A solução foi retornar para casa. E voltar no dia seguinte, quando tampouco havia vagas.

Segundo uma informação divulgada esta semana pelo hospital, ainda levaria alguns meses até que elas surgissem. Em outubro de 2005, todos os leitos da psiquiatria infantil do Hospital das Clínicas estavam desativados porque a unidade estava em reforma. Hoje, são dez em funcionamento, ocupados 98% do tempo, e que continuam sendo um dos poucos em São Paulo reservados para crianças e adolescentes com alguma doença psiquiátrica. Na época, a assistente social do hospital garantiu que Jacque estava na fila, esperando um leito psiquiátrico vagar em algum hospital público de São Paulo.

Heloísa sabia que não podia esperar. Foi para um pronto-atendimento de psiquiatria, que estava incluído na cobertura de seu plano de saúde. Era para lá que levava a filha sempre que ela tinha uma crise nos finais de semana. Jacque recebia mais medicamento, acalmava e voltava para casa.“Era sempre um jogo de empurra: o Hospital das Clínicas dizia que era para levar a Jacque em caso de emergência para esse pronto-atendimento. Nesse lugar, davam mais remédios e mandavam antecipar a consulta semanal no Hospital das Clínicas.” Desta vez, à procura de internação, Heloísa descobriu que o pronto-atendimento não contava com leitos para crianças. Levou Jacque para o pronto-socorro de outro hospital. O psiquiatra aplicou sedativos em Jacque e a mandou embora para casa. “É isso o que eles fazem. A pessoa se acalma e eles mandam embora para casa. Mas e quando o efeito do remédio acabar?.” No prontuário de Jacque, o médico escreveu “risco de suicídio”, recomendou internação e deu alta. Cansada, Heloísa levou Jacque para casa.

No dia seguinte, o segundo depois de a médica indicar internação, Heloísa voltou com a filha ao Hospital das Clínicas. Recebeu a recomendação de interná-la provisoriamente em um pronto-socorro, mantido pela Prefeitura de São Paulo, até que surgisse uma vaga. Foi para lá. “Eu nunca deixaria a minha filha naquele lugar. Ela tinha de ficar sentada em uma cadeira. Os remédios dela o padrinho foi buscar em casa porque lá não tinha. Era uma enfermeira cuidando de homens e mulheres, todos misturados.” Heloísa decidiu levar Jacque para casa e ficar aguardando o telefonema que avisaria sobre a vaga.

Jacque amanheceu tranquila no dia seguinte, o terceiro na busca de Heloísa por internação. “Eu não sabia que o perigo é quando eles se acalmam”, diz Heloísa. “Sem aquele turbilhão de emoções da crise, conseguem colocar seus planos em prática.” Heloísa avisou na escola que não iria mais trabalhar. Ficaria em casa, de plantão, até receber a ligação que avisaria sobre a vaga. Passou o dia arrumando o apartamento, para onde tinha se mudado há seis dias. Ela morava com as duas filhas em um anexo de sua escola infantil, e achava que lá Jacque não tinha sossego para descansar. Também temia que a filha tentasse “salvar o mundo” na frente dos alunos, crianças com no máximo seis anos de idade.

No fim da tarde, Jacque aceitou o convite da irmã para curtir a piscina do prédio. Heloísa, sem avistar nenhum perigo no térreo do edifício, deixou as duas na piscina e saiu para comprar alguns itens que precisava na vizinhança. Quando estava voltando para casa, viu uma manicure e resolveu fazer as unhas. Mal se sentou e carros de resgate passaram pela rua, com as sirenes ligadas. Decidiu acreditar que não podia ser em sua casa. Mas só até o telefone tocar. Aline, sua filha mais velha, avisava que Jacque pedira para voltar ao apartamento para dormir. Enquanto a irmã assistia à televisão, vigiando a porta do quarto, Jacque conseguira passar para o banheiro e trancar a porta por dentro. Aproveitou-se da única janela em que a empresa de telas de proteção não instalara uma rede: aquelas basculantes, bem pequenas, típicas de banheiro. Jogou-se. Jacque sofreu múltiplas fraturas pelo corpo e na cabeça. Foi operada, ficou dois dias em coma. Deu por cumprida sua missão de “salvar o mundo” no meio da tarde do domingo, 23 de outubro de 2005.

Heloísa tenta retomar a vida

“Você vai escrever que eu estava fazendo a unha”, pergunta Heloísa. “Parece o cúmulo da irresponsabilidade.” Talvez para alguém que não consiga se colocar no lugar de uma mãe que colocou a própria vida em segundo plano para cuidar da filha. Mas a maioria das pessoas subentende na pergunta de Heloísa a culpa com a qual ela terá de conviver. Mesmo sem ter nenhuma. “Depois da morte da Jacque fiquei sem viver dois anos. Entrei em depressão, só dormia, descuidei do meu trabalho. Quem tocava a escola eram as minhas funcionárias. Ainda estou tentando retomar a minha vida. Mas não tenho concentração nem capacidade criativa.”

A irmã de Jacque, Aline, também sofreu com a doença da irmã. Ela tinha 14 anos na época em que os primeiros sintomas de Jacque começaram a aparecer. Ressentia-se da atenção excessiva que a mãe dedicava à irmã. Chegou a tomar um punhado dos remédios de Jacque de uma só vez para tentar se matar. A combinação de remédios a deixou dopada por algumas horas. “Ela dizia que era melhor morrer do que viver daquele jeito”, diz Heloísa, que decidiu mandar Aline para a casa de uma amiga em Itatiba, cidade a 80 quilômetros de São Paulo. Aline passou todo o segundo semestre de 2004 no interior, estudando em uma escola local. Eram raros os finais de semana em que Heloísa conseguia visitá-la. Viajar com Jacque era um risco: ela tentava abrir a porta e se jogar do carro em movimento. “A doença acabou separando a família.”

Hoje, Heloísa mora em uma casa, na mesma rua onde fica sua escola. De lá consegue avistar o prédio de onde Jacque se jogou. Está processando o governo do Estado de São Paulo pela falta de leitos psiquiátricos. “Tenho certeza de que Jacque não teria conseguido se matar se tivéssemos encontrado uma vaga”, afirma Heloísa. “Quem sabe ela teria uma chance de aprender a conviver com sua doença.”


segunda-feira, 1 de junho de 2009

Transtorno bipolar e sua biomitologia

Leia a importante entrevista abaixo com um ex-funcionário da Associação Britânica de Psicofarmacologia, e fique sabendo coisas chocantes sobre o "transtorno afetivo bipolar". O especialista nos informa, entre outras coisas, que transtorno bipolar NÃO É a mesma coisa que a doença maníaco-depressiva, como muitos erradamente pensam. David Healy, um ex-secretário da British Association for Psychopharmacology (Associação Britânica de Psicofarmacologia), é autor de mais de 120 artigos e 14 livros, incluindo The Antidepressant Era (A Era do Antidepressivo), The Creation of Psychopharmacology (A Criação da Psicofarmacologia), e Mania, um novo livro sobre a fascinante história do transtorno bipolar. Sua crítica contra as práticas das empresas farmacêuticas o colocou em desacordo com os colegas da psiquiatria e farmacologia. Ao mesmo tempo, a sua perícia como um líder acadêmico incontestado, pesquisador e médico lhe dá uma perspectiva única sobre padrões e problemas na psiquiatria anglo-americana. Ele concordou recentemente em responder a uma série de perguntas sobre a crescente prevalência e definição alargada do transtorno bipolar. Parte do que você descreve em seu novo livro "Mania: Uma Breve História do transtorno bipolar" é uma boa parte de "biomitologia" (biomythology) sobre a doença. Quais os aspectos em particular que você tem em mente? "Biomythology" está ligado a "biobabble", um termo que eu criei em 1999, para se corresponder à expressão amplamente utilizada "psychobabble". (Babble = rumores. Logo, "psychobabble" se refere a falsas afirmações sobre problemas psíquicos, wenfim mitosd sobre doenças mentais) Biobabble se refere a coisas como a suposta redução dos níveis da serotonina e o desequilíbrio químico que dizem estar no centro dos distúrbios de humor, TDAH(Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade), e de ansiedade. Isto é tão mítico quanto as supostas alterações da libido que a teoria freudiana afirma que estão no centro dos transtornos psicodinâmicos. Embora a libido e serotonina sejam coisas reais, a forma como esses termos foram usados uma vez por psicanalistas e por psicofarmacêuticos agora, especialmente no jeito como eles têm se diluído na cultura popular, não tem qualquer relação com qualquer nível subjacente de serotonina ou desequilíbrio químico mensurável ou distúrbio da libido. O que é surpreendente é a forma rápida que estes termos foram tomados pela cultura popular, e de uma maneira bem global, com tantas pessoas agora rotineiramente dizendo que seus níveis de serotonina estão descontrolados quando elas estão se sentindo mal ou erradas. No caso do transtorno bipolar os "biomyths" (biomitos) se centram nas ideias sobre a estabilização do humor. Mas não há provas de que as drogas estabilizam humor. Na verdade, nem sequer é claro que faça sentido falar de um centro do humor no cérebro. Um outro pedaço da mitologia que visa manter as pessoas tomando as drogas diz que estas são supostamente neuro protetoras, mas não há provas de que este é o caso e, de fato, estas drogas podem levar a danos cerebrais. Como é que o nosso entendimento de "mania" hoje se difere das concepções anteriores do fenômeno? Transtorno bipolar em si é um pouco uma entidade mítica. Como é empregado agora o termo tem pouca relação com a clássica doença maníaco-depressiva, que obrigava as pessoas a serem hospitalizadas com um episódio da doença, seja depressão ou mania. Os problemas que, atualmente, estão agrupados sob o título "transtorno bipolar" são semelhantes aos problemas que, na década de 1960 e 1970, teriam sido chamados de "ansiedade" e tratados com tranquilizantes ou, durante a década de 1990, teriam sido identificados como "depressão" e tratados com antidepressivos. Como é que passamos, tão rapidamente, na década de 1990, de um modelo de tratamento psicoterápico para crianças para um modelo de tratamento altamente relacionado às drogas? Penso que um fator-chave para esta mudança foi a disponibilidade de critérios operacionais. Estes foram introduzidos em 1980 no DSM-III, a 3ª edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. A ideia foi a de cobrir a brecha entre os psicoterapeutas, por um lado, e os neurocientistas, por outro. Esperava-se que, se ambos os campos pudessem assegurar que os pacientes conseguissem critérios 5 de 9 para depressão, por exemplo, então, pelo menos, o grupo de pacientes seria homogêneo, mesmo se as opiniões sobre o que levou aos problemas não fossem. Presumia-se, no entanto, que havia lugar para um julgamento clínico, para que uma paciente que reunia 5 dos 9 critérios para depressão, mas tinha gripe ou estava grávida fosse diagnosticada como grávida e não deprimida. Mas, em face da propaganda das empresas, e com o advento da Internet, o julgamento clínico se esvaziou. Pacientes na Internet ou diante dos materiais das empresas farmacêuticas agora facilmente acham que preenchem os critérios para um transtorno e muitas vezes não existe nada nem ninguém que possa dizer-lhes que isto não é o equivalente a ter o distúrbio. Em casos extremos, tive pacientes com carreiras altamente sociais que vêm falar comigo e dizem que acham que têm síndrome de Asperger, porque eles viram na Internet e acham que eles cumprem os critérios para tal, quando, na verdade, quase por definição , essa pessoa pode não ter Síndrome de Asperger. Na ausência de julgamento clínico existe um padrão para uma opção de um medicamento biológico como solução. Critérios criam um problema para o qual uma droga é muitas vezes a resposta, em apenas da mesma forma que as medições de seus níveis lipídicos criam um problema do qual uma estatina é a solução. Critérios operacionais estão interagindo aqui com uma certa perda da autoridade médica. Não é possível para uma médica (sic), hoje em dia, dizer a um paciente, "Baseado em meus 15 a 20 anos de experiência, você não tem PSPT(Perturbação de Stress Pós-Traumático)", ou seja o que for. Ela não pode dizer, "Nós não precisamos continuar esta conversa, volte quando você tiver uma formação médica e 15 anos de experiência clínica." A médica (sic) tem que dialogar com o paciente sobre o nível do material que está lá fora, na cultura popular, e quando ela tenta fazer isso ela vai descobrir que ela está disputando com uma implantação extraordinariamente hábil desses materiais feitos pelo departamento de marketing das companhias farmacêuticas que são mestres em povoar a cultura geral para atender aos seus interesses. Em meados da década de 1990, você nota, cerca de metade de todos os transtornos do humor foram redefinidos como transtorno bipolar, em vez de depressão. O que você acha que explica essa dramática mudança de perspectiva? O principal evento em meados da década de 1990 que levou à mudança de perspectiva foi a comercialização de Depakote pela Abbott como um estabilizador do humor. Antes disso, o conceito de estabilização de humor não existia. E, embora em uma popular série televisiva podemos aceitar que Buffy a caça vampiros ganhe uma nova irmã na Temporada Cinco que tinha todo o tempo, mas nós não conhecíamos, não esperamos que isso aconteça na academia. A introdução da estabilização de humor pela Abbott e outras companhias que pegaram o embalo para comercializar anticonvulsivantes e antipsicóticos foi, de fato, bastante comparável a Buffy obtendo uma nova irmã. Estabilização de humor não existia antes de meados da década de 1990. Não pode ser encontrado em nenhum dos livros anteriores de referência e jornais. Desde então, porém, agora temos seções para estabilizadores de humor em todos os livros sobre drogas psicotrópicas, e mais de uma centena de artigos por ano apresentando estabilização de humor nos seus títulos. Da mesma forma, a Abbott e outras companhias, como a Lilly comercializando Zyprexa para transtorno bipolar, têm re-estruturado a doença maníaco-depressiva. Embora o termo transtorno bipolar estivesse presente desde 1980, doença maníaco-depressiva era o termo que era ainda mais comumente utilizado até meados da década de 1990 quando desaparece e é substituído por transtorno bipolar. Atualmente, mais de 500 artigos por ano colocam transtorno bipolar em seus títulos. Você apenas tem que olhar para a Lilly que comercializou Donna nos documentos da internet sobre Zyprexa para ver o que está acontecendo aqui: "Donna é uma mãe solteira, de uns 30 anos, e aparece em seu escritório com roupas um tanto relaxadas e pouco à vontade. Sua principal queixa é "Eu me sinto tão ansiosa e irritada ultimamente." Hoje ela diz que tem dormido mais que o habitual e tem dificuldade para se concentrar no trabalho e em casa. No entanto, em várias consultas anteriores ela estava falante, eufórica, e relatou que tinha pouca necessidade de sono. Você a tem tratado com vários medicamentos, inclusive com antidepressivos com pouco sucesso... Você poderá garantir para Donna que Zyprexa é seguro e que irá ajudar a aliviar os sintomas contra os quais ela está lutando. " Donna poderia ter destaque nos anúncios de tranquilizantes de 1960 a década de 80, ou de antidepressivos na década de 1990, e teria sido provavelmente mais susceptível de responder a qualquer um destes grupos de tratamento do que para um antipsicótico, e menos provável de ser prejudicado por eles do que por um antipsicótico. O que as empresas de marketing são muito boas de fazer é enquadrar as pessoas que têm sintomas comuns, que quase todos nós temos, numa maneira mais conveniente de conduzir a uma receita para o remédio do dia. É uma afronta para um século de pensamento psiquiátrico ver condições que pacientes como Donna têm como transtorno bipolar. Mas se um século de pensamento psiquiátrico costumava dizer alguma coisa, não diz mais. Entre 1996-2001, você explica, houve um aumento de cinco vezes no uso de antipsicóticos (Zyprexa, Risperdal, Abilify, Seroquel, e outros) em pré-escolares e pré-adolescentes. Qual o papel que o DSM-IV desempenhou nisso, com a introdução da categoria, ainda controversa, transtorno bipolar II? O conceito de transtorno bipolar juvenil voa ainda mais em face da sabedoria tradicional em psiquiatria do que em chamar Donna de bipolar. A partir de 2008, mais de um milhão de crianças nos Estados Unidos, em muitos casos pré-escolares estão tomando "estabilizadores de humor" para o transtorno bipolar, embora a condição permaneça desconhecida no resto do mundo. Não estou certo de quanto DSM-IV(Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais 4º Ed.) desempenhou algum papel nesta mudança. Acho que as empresas teriam encontrado uma maneira de criar essa mudança, mesmo sem a introdução do transtorno bipolar II no DSM-IV. Então a quanto dessa mudança é atribuível aos antidepressivos ISRS (Inibidores Seletivos da Recaptação da Serotonina)terem perdido a patente enquanto os antipsicóticos eram ainda grandes geradores de lucro? Acho que este foi, de fato, pivô do que aconteceu. Os antidepressivos poderiam perder a patente enquanto que as drogas anticonvulsivantes eram mais velhas e poderiam ser repatenteadas para esta finalidade, e os antipsicóticos, que também poderiam ser (e foram) comercializados como estabilizadores de humor, iniciavam suas vidas de patentes. Um ponto que está relacionado e que vale a pena trazer a tona é que a mudança ocorreu porque as empresas não foram capazes de fazer antidepressivos novos e mais eficazes. Se tivessem sido capazes de fazê-lo, acho que eles teriam provavelmente ficado com o modelo de depressão e não teriam feito a mudança para o transtorno bipolar. Nos termos do que está acontecendo nos EUA, penso que temos de olhar para o modo como as empresas farmacêuticas têm habilmente explorado os médicos. Os médicos até que têm tentado ajudar. Embora as drogas apenas estejam disponíveis mediante receita médica,, os médicos tendem a ver passar um medicamento como um procedimento natural, enquanto que anteriormente tinham sido muito mais céticos sobre os benefícios dos tratamentos medicamentosos. As empresas farmacêuticas têm arrumado uma situação em que acadêmicos se tornaram os principais oradores para as drogas. Vemos o Representante de vendas no canto e pensamos que podemos resistir facilmente aos seus encantos, mas acabamos deixando que eles dominem totalmente a situação. Mas é o meio acadêmico que vende as drogas. Os médicos que pensam que não são influenciado pelo marketing das empresas ouvem as vozes dos acadêmicos psiquiatras quando estes, no caso dos antidepressivos e antipsicóticos dado às crianças, têm falado sobre dados provenientes de testes controlados, e ao fazer isso eles têm sido, consciente ou inconscientemente, um instrumento para os departamentos de marketing das empresas. Na sua opinião, a decisão da FDA em 2004 de adicionar advertências em caixa-preta aos ISRSs sobre uso pediátrico levou a mais prescrições off-label e até mesmo a uma guinada em direção aos antipsicóticos, presumindo-se que estes últimos são mais seguros para uso em crianças? Acho que isto teve muito pouco efeito na mudança de depressão para transtorno bipolar, mas o que foi bastante surpreendente foi a rapidez em que as empresas foram capazes de utilizar a opinião dos poucos bipolarologistas (sic) que argumentavam que quando as crianças tornavam suicidas com antidepressivos não é a culpa da droga. O problema, eles diziam, decorre de um diagnóstico equivocado e, se pudéssemos apenas obter o diagnóstico correto e colocar a criança para tomar estabilizadores de humor, então não haveria problema. Não há provas para esse ponto de vista, mas foi interessante ver como de apoio das empresas poderia pôr vento nas velas de uma tal perspectiva. Também foi interessante ver como as pessoas ficavam meio delirantes por causa de uma ideia desta. Confrontados com detalhes, como voluntários saudáveis ficando suicidas ao tomar antidepressivos, dedicados "bipolarologistas" estavam prontos a dizer que isto só mostra que estas pessoas normais são bipolares latentes. Neste caso, penso que a maioria das pessoas vai ver que "bipolaridade latente ", como um conceito, está funcionando um pouco como a forma latente da homossexualidade uma vez funcionou para os Freudianos. A maioria das pessoas também verá que o primeiro conceito é impossível. O que as empresas têm feito é passar um megafone para as mãos dos defensores desse ponto de vista sobre transtorno bipolar, que era até muito recentemente uma rara minoria. E são os antipsicóticos na verdade mais seguros que antidepressivos? Não, eles não são. Os antipsicóticos são tão perigosos quanto os antidepressivos. Antes da introdução dos antipsicóticos, as taxas de suicídio na esquizofrenia eram extremamente baixas, eram difíceis de diferenciar do resto da população. Desde a introdução dos antipsicóticos as taxas de suicídio subiram 10 - ou 20 vezes. Muito antes de que os antidepressivos fossem relacionados a acatisia, os antipsicóticos eram universalmente reconhecidos como causadores desse problema. Também foi universalmente aceito que a acatisia que eles causavam tinha o risco de induzir o paciente ao suicídio ou à violência. Eles também causam uma dependência física. Zyprexa está entre as drogas mais susceptíveis de fazer que as pessoas se tornem fisicamente dependentes dela. No que me diz respeito, a licença do Zyprexa para a suposta manutenção para tratamento de transtorno bipolar resulta de dados que são de fato excelente prova para o que provoca dependência física e os problemas que podem surgir quando o tratamento é interrompido. Além disso, naturalmente, estas drogas são conhecidas por causar uma variedade de síndromes neurológicas, diabetes, problemas cardiovasculares, e outros problemas. É difícil compreender o quão cegos clínicos podem ficar para problemas como estes, em especial nos jovens que crescem e se tornam obesos e diabéticos bem diante de seus olhos. Mas temos um campo que, quando confrontados com o óbvio, em vez disso optou por ouvir as vozes de Eli Lilly dizendo: "Oh não, não há qualquer problema com Zyprexa. A psicose é o que provoca diabetes - Henry Maudsley reconheceu isso 130 anos atrás". Bem, Henry Maudsley odiava pacientes, e viu pouquíssimos deles num tempo em que o diabetes era raro. Recentemente, olhamos para as admissões do Hospital de North Wales no período 1875-1924, vasculhando sua carreira, e entre os mais de 1200 casos admitidos por doença mental grave, ninguém tinha diabetes e ninguém passou a desenvolvê-la. Também analisamos as admissões para a unidade local de saúde mental entre 1994 e 2007, e em mais de 400 internações primeiro ninguém tinha diabetes de tipo 2, mas o grupo como um todo passou a desenvolver diabetes em dobro da taxa nacional. Isto não é surpreendente. O que é impressionante é como o campo inteiro engoliu a linha da Lilly, especialmente quando ela era tão implausível para começar. Tivemos grandes dificuldades para fazer que este artigo fosse publicado. Um jornal se recusou mesmo a revê-lo. Uma forma de levantar um perfil de transtorno bipolar em crianças, você nota, era argumentar que elas tinham sido mal diagnosticadas com TDAH. Quais foram as implicações e os efeitos dessa solicitação? No caso das crianças com TDAH, acho que precisamos observar é que na maior parte do mundo até muito recentemente (e ainda em países como a Índia), TDAH é um transtorno muito raro em que as crianças, geralmente meninos, são fisicamente muito hiperativos. Esta é uma condição que eles superam em sua adolescência. Tratamento com estimulantes pode fazer a diferença em casos como este. Se o tratamento é sempre necessário, no entanto, pode depender das circunstâncias da criança, por oposição à natureza de qualquer suposto condição. É só num mundo onde escolaridade ou a adesão a um determinado conjunto de normas sociais é obrigatório que uma condição como TDAH se torna um transtorno. Houve uma maior tolerância ao longo de um século atrás do que existe atualmente para as crianças fazerem outras coisas na infância, e aguardarem até que se estabelecessem na adolescência, sem serem tratadas, para sua condição. O que temos hoje não é TDAH como era classicamente entendido, mas sim um estado de coisas que temos tido ao longo dos séculos, que é o da "criança problema." Hoje, a criança problema é rotulada como tendo TDAH. Mas ter apenas um rótulo é muito limitante. A psiquiatria infantil (pedopsiquiatria) precisava de um outro distúrbio, e por esta razão a doença bipolar foi bem-vinda. Nem todas as crianças acham os estimulantes adequados, e assim como com os ISRS e o transtorno bipolar, tornou-se muito conveniente dizer que os estimulantes não foram a causa do problema que a criança estava experimentando, a criança tinha na verdade um distúrbio diferente e, se pudéssemos apenas obter o diagnóstico correto então tudo ficaria no lugar. Uma fenômeno fascinante, neste momento, é um claro efeito "looping" do TDAH em adultos. Muito recentemente as orientações(guidelines) para TDAH da NICE [National Institute for Health and Clinical Excellence] da Grã-Bretanha saiu e declarou que TDAH em adultos é um transtorno clínico válido. Estou certo de que há alguns anos, 85 a 90 por cento dos médicos do Reino Unido não teria pensado que TDAH em adultos era um transtorno clínico válido. Seria de se esperar que as orientações fossem um pouco conservadoras, mas neste caso o que parece que se vê é o processo das guias sair à frente no campo, levando os clínicos em uma direção que parece ser bastante surpreendente. As empresas farmacêuticas compreendem muito bem que essas orientações que estão construindo devem ser neutras em termos de valor e seguir os dados. Isto significa que eles podem facilmente criar testes que podem mostrar vantagens mínimas para o seu medicamento para uma condição que eles chamaram de "TDAH adulto." Os autores das orientações têm pouca opção senão suspender a sentença e aceitar que a condição colocada deve ser real. Assim, por exemplo, como Lilly obteve, eles acabam aprovando a utilização de um agente como Strattera. O que é surpreendente sobre a atual situação é que parece ser quase impossível chegar aos autores das orientações, que estão sentados no meio da estrada, imobilizados pelos faróis que chegam, fora do caminho dos farmacêuticos poderosos. Você pode mostrar como estão sendo manipulados, mas eles dão de ombros e perguntam, "O que podemos fazer?" Começamos recentemente a um inquérito, aqui no Norte do País de Gales, olhando para os aspectos da situação. Em resposta a perguntas, aqui clínicos indicaram que três anos atrás estavam bastante certos de que eles não teriam utilizado TDAH adulto como uma condição válida, mas eles antecipam que daqui a três anos a eles provavelmente vão. Acho que isso mostra uma apreciação realista das habilidades das empresas para mudar o clima em que a prática clínica acontece, e da relativa futilidade de tentar se levantar contra tais mudanças. Você tem que tratar pacientes reais. O que você diz a eles sobre estas condições e as suas opções do tratamento? Muitos médicos, cientistas e pacientes ouviram falar do pós-modernismo. Eles já devem ter ouvido críticas das empresas contra alguém como eu, dizendo coisas como "Não dê ouvidos a ele, ele não passa de um pós-modernista". A implicação é que se trata de pós-modernismo, mas um distúrbio psiquiátrico, no seu próprio direito, em que professores universitários como eu recusam a admitir que haja qualquer realidade para o comportamento humano ou implicações físicas dos transtornos do comportamento humano. Em contrapartida, a história vai, lá estão os cientistas que trabalham no duro, para empresas farmacêuticas ou com empresas farmacêuticas que lidam apenas com fatos e dados duros, e a prova é que eles trazem novas drogas úteis para o mercado. Bem, acho que a história de Donna acima ilustra é que os departamentos de marketing das empresas farmacêuticas que são, na realidade, pós-modernistas por excelência. Eles tratam o corpo humano (incluindo os seus transtornos e reclamações), como textos, que deve ser interpretado de uma forma este ano e de uma forma totalmente oposta em um ano ou dois mais tarde. Em contrapartida, quando se trata dos perigos das drogas, assim como as empresas tabaqueiras, antes deles, o lema da indústria farmacêutica tornou-se "dúvida é o nosso produto", eles simplesmente se recusam a admitir que as suas drogas estão ligados a qualquer perigo em absoluto. . . até que a droga perde a patente. Você não pode obter uma melhor definição de pós-modernismo que "dúvida é o nosso produto." Então, a questão de quais tratamentos são melhores: estou muito feliz que os pacientes que vem me ver que, em geral obtêm tratamentos mais eficazes e seguros para seus problemas do que eles obtêm de médicos que aderem às últimas orientações. O problema é que basta apenas eu tropeçar uma vez e ter um grande problema, enquanto que atrocidades podem ser cometidas do outro lado, sem ninguém vir a ser incomodado. David Healy é o autor de 14 livros, incluindo o A Era do Antidepressivo, A Criação da Psicofarmacologia, Let Them Eat Prozac: The Unhealthy Relationship between the Pharmaceutical Industry and Depression (Deixe-os Comer Prozac: As Relações Nada Saudáveis Entre a Indústria Farmacêutica e a Depressão), e, mais recentemente, Mania: A Short History of Bipolar Disorder (Mania: Uma Breve História do transtorno bipolar). Christopher Lane é o autor mais recentemente de Shyness: How Normal Behavior Became a Sickness (Timidez: Como Um Comportamento Normal Se Tornou Uma Doença. Entrevista do especialista em psicofarmacologia, David Healy. Leia a entrevista completa em Bipolar disorder and its biomythology: An interview with David Healy

"Dói internar um filho. Às vezes não há outro jeito"

O poeta Ferreira Gullar, pai de dois esquizofrênicos, levanta uma das maiores controvérsias da psiquiatria: o que fazer com doentes mentais em estado grave?

Quando o escritor Ferreira Gullar publicou em 1999 o poema “Internação” (leia ao lado), já era um veterano na convivência com doentes mentais. Quem fez a observação sobre o vento foi Paulo, seu filho mais velho, que hoje tem 50 anos. Ele sofre de esquizofrenia, doença caracterizada, entre outras coisas, por dificuldade em distinguir o real do imaginado. Desde os anos 70, Gullar tenta administrar a moléstia. Fazia o mesmo com Marcos, o filho dois anos mais jovem, que também tinha esquizofrenia e morreu de cirrose hepática em 1992. Remédios modernos permitem que pessoas como Paulo passem longos períodos em estado praticamente normal. Sem alucinações, sem agitação, sem agressividade. Mas o tratamento só funciona se o doente tomar os medicamentos antipsicóticos todos os dias e na dose certa. Isso nem sempre acontece. O resultado são os surtos, quando o paciente se torna quase incontrolável.

Pode cometer suicídio ou agredir quem está por perto. Nesses momentos, esses doentes costumam precisar de internação. “Dói ter de internar um filho”, diz Gullar, hoje com 78 anos. “Às vezes, não há outro jeito.”

No Brasil, estima-se que haja 17 milhões de pessoas com algum transtorno mental grave – como esquizofrenia, depressão, transtorno bipolar, transtorno obsessivo-compulsivo. Em algum momento, eles podem precisar de um hospital psiquiátrico. Encontrar uma vaga, porém, tornou-se uma tarefa difícil.

Nos últimos 20 anos, quase 70% dos leitos psiquiátricos do país foram fechados. Sem conseguir quem os ajude a cuidar dos doentes, pais e irmãos afirmam ter várias dimensões de sua vida pessoal comprometidas, dos compromissos de trabalho às amizades. É o que revela uma pesquisa feita em 2006 em Minas Gerais com 150 famílias com pessoas atendidas nos Centros de Referência em Saúde Mental. Em muitos casos, os doentes em surto fogem sem deixar rastro. Podem acabar embaixo dos viadutos. O aumento da população de rua nas grandes cidades não é fruto exclusivo da desigualdade social. Uma pesquisa feita em 1999 com moradores de rua em Juiz de Fora conclui que 10% deles eram psicóticos sem assistência.

“As famílias, principalmente as que não têm recursos, não têm mais onde pôr seus filhos”, diz Gullar. “Eles viram mendigos loucos, mendigos delirantes que podem agredir alguém. O Ministério da Saúde tem de olhar para isso.” Gullar decidiu expor publicamente um problema que não é só seu. Nas últimas semanas, escreveu três artigos sobre o assunto em sua coluna no jornal Folha de S.Paulo. “Não pretendo liderar movimento algum. Sou um cidadão que tem uma tribuna e pode falar sobre o que está errado.”

Ele afirmou, no primeiro texto, que a campanha contra a internação de doentes mentais é uma forma de demagogia. Foi o suficiente para fazer eclodir uma controvérsia latente. Nos dias seguintes, dezenas de leitores enviaram cartas ao jornal. Representavam dois grupos. O primeiro, em apoio a Gullar, aponta as razões fisiológicas da doença mental e considera que a internação é um instrumento necessário nos momentos de surto.

O segundo, contra ele, afirma que os doentes devem ser atendidos em Centros de Atenção Psicossocial (Caps). Nesses locais, o paciente recebe medicação e acompanhamento semanal. A ideia é atendê-lo sem retirá-lo do convívio da família e da comunidade. Para esse grupo, mesmo nos momentos de crise, o doente deve ser atendido nos Caps. Ele passaria alguns dias internado na própria instituição (ou em hospitais comuns, com alas psiquiátricas) e depois voltaria para casa. “O hospital é um lugar de isolamento, funciona como uma prisão. As pessoas vão e não voltam”, diz Humberto Verona, presidente do Conselho Federal de Psicologia. “Algumas famílias querem que a pessoa fique internada. É a ideia da instituição como depósito.”

Gullar se ofende com comentários como esse, que ouve desde o final dos anos 80, quando a reforma psiquiátrica que levou à situação atual começou a ser discutida no Brasil. “Essas pessoas não sabem o que é conviver com esquizofrênicos, que muitas vezes ameaçam se matar ou matar alguém. Elas têm a audácia de fingir que amam mais a meus filhos do que eu.”