sábado, 27 de junho de 2009
São Paulo aprova projeto contra bullying na rede de ensino
"Acredito que a principal ferramenta é a conscientização de que o problema existe. A partir do diagnóstico, da conscientização e da informação, podemos atuar de forma preventiva e apoiar os estudantes vítimas de bullying", observa o vereador tucano.
De acordo a propositura aprovada, um decreto vai regulamentar ações que serão colocadas em práticas como palestras, debates, distribuição de cartilhas de orientação aos pais, alunos e professores, entre outras iniciativas. Tudo para reforçar a conscientização sobre a importância de se combater o bullying na rede municipal.
Além disso, o projeto prevê que a secretaria Municipal de Educação faça um diagnóstico das situações de bullying, nas unidades escolares, bem como o seu constante acompanhamento, respeitando as medidas estabelecidas no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
O termo bullying surgiu nos Estados Unidos para denotar atos de violência física ou psicológica, intencionais e repetidos, praticados por um indivíduo ou grupo de indivíduos com o objetivo de intimidar ou agredir o outro.
Maiores informações: 11 7735-6311 - Assessoria do Vereador Gabriel Chalita
Para ler na Íntegra o projeto e a notícia, clique aqui.
sexta-feira, 26 de junho de 2009
Combate às drogas no mundo
A Organização das Nações Unidas publicou nesta quarta-feira, 24, seu relatório anual sobre as drogas. A data de publicação coincide com o Dia Mundial do Combate às Drogas, HOJE, 26.
O documento apresenta uma série de dados indicando que o combate às drogas surte efeito, ao contrário do que normalmente é dito. A produção de cocaína no mundo é a menor dos últimos cinco anos, e o enfrentamento funcionou em países como a Colômbia, o maior produtor da droga no mundo. Desde 2007 a produção de cocaína no país caiu 28%, o que o documento classifica como “impressionante”.
Segundo o diretor do Escritório de Drogas e Crime das Nações Unidas (UNODC), Antonio Maria Costa, a opção pela legalização é inexistente. “Drogas ilícitas são um perigo à saúde. É por isso que elas são, e devem continuar, ilícitas. A legalização não é uma varinha mágica que vá acabar com as máfias ou o vício”, afirmou. De acordo com ele, a política que surte efeito é o uso de inteligência e ações policiais contra os cartéis e ajuda para os usuários. “As pessoas que usam drogas precisam de ajuda médica, não de retaliação criminal”, disse.
No Brasil, chama a atenção o aumento no consumo de drogas sintéticas, como ecstasy. Esse crescimento é tendência nos países em desenvolvimento. O país também é apontado no décimo lugar entre os que mais apreendem cocaína. O relatório chama atenção para os crimes resultantes do tráfico de drogas, como a corrupção de policiais e políticos. Os países em desenvolvimento seriam os mais afetados por este tipo de crime, pois muitas instituições ainda não estariam sólidas.
Dia Mundial do Combate às Drogas
Neste ano a ONU deixou o debate mais próximo da população. Pela primeira vez é possível acessar o relatório por uma variedade de meios. O documento de 314 páginas está disponível no site da UNODC para visualização e download em PDF.
Como parte do debate, o UNODC lançou uma campanha para o Dia Mundial do Combate às Drogas. Com o tema “As drogas controlam sua vida? Sua vida. Sua comunidade. Sem lugar para as drogas”, o Escritório elaborou uma série de eventos no mundo todo.
No Brasil, do dia 19 até o dia 26 de junho, a Secretaria Nacional Antidrogas faz a Semana Nacional de Prevenção ao Uso de Drogas, em sua décima primeira edição. O portal da World Drug Campaign traz a programação completa de eventos no mundo todo. O site apresenta iniciativas positivas, como a do Peru. O país, que era nos anos 90 o maior produtor de coca, conseguiu diversificar sua produção agrícola. Apesar de registrar um aumento em sua produção de 2007, o país é um exemplo para nações como o Afeganistão, que cultiva 93% do ópio mundial.
Para baixar o documento (em inglês) e ler a notícia completa, clique aqui.
Fonte: Opinião e Notícia
quinta-feira, 25 de junho de 2009
Mirtazapina pode aumentar segurança ao volante para pacientes deprimidos
“Já foi demonstrado que determinados antidepressivos causam dano ao funcionamento psicomotor que é relevante para o desempenho ao volante”, escrevem Dr. Jianhua Shen, da University of Toronto, Ontário, Canadá, e colaboradores. Mirtazapina tem sido associada “a aprimoramentos na eficiência do sono e à preservação de sua arquitetura”, ressaltam eles. “Há relatos de que este medicamento melhora o estado de alerta durante o dia”.
“O efeito agregado da mirtazapina sobre a direção de veículos é de aumentar sua segurança”, concluem os pesquisadores. “Precisa-se de um próximo estudo comparando este medicamento com outros antidepressivos, a fim de esclarecer os possíveis mecanismos da mirtazapina, relacionados com o sono, que promovem esse efeito sobre a direção”.Leia a notícia na íntegra, aqui.
quarta-feira, 24 de junho de 2009
As melhores formas de evitar problemas mentais
Embora haja evidências de que genes ou doenças possam aumentar o risco de perda de memória, ainda há muitas formas de evitar que o cérebro envelheça.
Foi o que descobriram pesquisadores norte-americanos. Eles afirmam que os exercícios são fundamentais e dão destaque para atividades mentais e vida social.
De acordo com os pesquisadores, quanto mais tempo as pessoas estudam, menores são as chances de elas desenvolverem problemas mentais. Além disto, aqueles que não fumam também têm menos chances de desenvolverem problemas deste tipo.
Sabe-se que 53% das pessoas apresentam um pequeno declínio mental nas faixas dos 70 e dos 80 anos, e cerca de 16% desenvolvem problemas mais graves relacionados à memória e outras funções mentais à medida que envelhecem.
Fonte: Opinião e Notícia.
quinta-feira, 18 de junho de 2009
Aumento na prevalência de depressão em diabéticos tipo 1
O Dr. David Maahs, aliado ao University of Colorado Health Science Center em Denver, e colaboradores avaliaram a prevalência de depressão e uso de medicamentos antidepressivos em 458 adultos com diabetes tipo 1 e 546 adultos sem diabetes.
Todos os indivíduos foram incluídos no estudo CACTI (Calcificação Arterial Coronariana no Diabetes Tipo 1), que avaliou fatores relacionados à resistência insulínica em relação à calcificação arterial coronariana em diabéticos tipo 1 assintomáticos.
Na presente análise, a depressão foi confirmada por um escore > 14 no Beck Depression Inventory II (BDI-II), e/ou uso atual de antidepressivo relatado. As complicações do diabetes foram auto-relatadas e incluíram retinopatia, amaurose, neuropatia, amputação devido ao diabetes e transplante de rim e pâncreas.
Os resultados evidenciaram que adultos com diabetes tipo 1 apresentavam chance maior que duas vezes de sofrerem de depressão do que aqueles sem a doença (odds ratio, 2,4) e quase três vezes mais chances de apresentarem um escore clinicamente significativo no BDI-II. Pacientes adultos com diabetes tipo 1 também apresentavam quase duas vezes mais chances de utilizarem medicamentos antidepressivos do que os não-diabéticos (20.7% vs. 12.1%).
Ao todo, a prevalência de indicadores de depressão em diabéticos tipo 1 foi de 32,1%, comparados aos 16,0% em não-diabéticos.
O estudo também descobriu uma associação entre depressão e complicações do diabetes. Diabéticos tipo 1 que referiram a presença de ao menos uma complicação do diabetes apresentaram escores significativamente maiores no BDI-II do que os diabéticos sem quaisquer complicações (10,7 versus 6,4).
A depressão não tratada tente a se tornar crônica ou levar a recidivas, observaram os pesquisadores em sua apresentação de pôsteres, e os médicos devem objetivar a varredura rigorosa dos pacientes com diabetes tipo 1 para depressão. Em particular, a varredura deve visar os pacientes com complicações do diabetes visto que estes possuem maior chance de apresentar os sintomas depressivos, disseram eles.
quarta-feira, 17 de junho de 2009
Britânicos criam novo teste para ajudar a identificar demência
O questionário com duas páginas pode ser preenchido pelos próprios pacientes na sala de espera de consultórios médicos ou de hospitais.
O chamado "Teste Sua Memória" (TYM, na sigla em inglês) inclui uma série de dez tarefas que têm o objetivo de avaliar habilidades-chave que podem ser afetadas pela doença, como a de copiar uma sentença, usar as palavras apropriadamente, empregar aritmética básica ou usar a memória.
Jeremy Brown, neurologista do Hospital Addenbrooke, em Cambridge, onde o teste foi desenvolvido, disse que o TYM detectou Alzheimer em 93% dos pacientes em um teste com 540 pessoas saudáveis e 139 pessoas já diagnosticadas com a doença. O teste tradicional, conhecido como Mini-Avaliação do Estado Mental (MMSE, na sigla em inglês), revelou a presença da doença em apenas 52% dos pacientes.
"É um novo teste de triagem para o mal de Alzheimer", disse Brown. "Não é um teste para diagnóstico mas poderá permitir uma triagem rápida de pacientes com problemas de memória e identificar os que precisam ser enviados para uma avaliação mais detalhada."
"O atual teste-padrão (...) vem sendo usado há 50 anos e leva cerca de oito minutos para ser concluído. Ele não é particularmente sensível para detectar o mal de Alzheimer."
O especialista acredita ainda que este teste pode ser muito mais fácil de aplicar em pessoas que não têm o inglês como língua nativa.
Entre as perguntas do TYM estão: "O que uma cenoura e uma batata têm em comum"?; "Desenhe os ponteiros para que o relógio marque 9h20"; "Em que ano a Primeira Guerra Mundial começou?"; ou "Escreva os nomes de quatro animais que comecem com a letra 'S'".
Em aritmética, pede-se que o paciente faça contas simples de adição, subtração e multiplicação.
O novo teste foi apresentado na revista BMJ Online.
Rebecca Wood, diretora executiva da ONG Alzheimer's Research Trust, disse que o novo teste é um grande passo nos esforços para identificar sinais prematuros de demência.
Wood acredita que dois terços das pessoas que desenvolveram o mal não foram diagnosticadas imediatamente.
terça-feira, 16 de junho de 2009
O poder calmante do cigarro, apesar de nocivo
E parece que eles têm razão. Segundo um estudo publicado na revista Behavioral and Brain Functions, essa informação é verdadeira. A pesquisa mostra que a nicotina tem mesmo efeito calmante. No experimento, os voluntários participaram de um jogo eletrônico no qual o objetivo era enfurecê-los. Os que tinham recebido adesivos de nicotina foram menos propensos a retaliar as provocações do inimigo virtual. O efeito se explica, segundo os autores, porque a nicotina provocou mudanças no metabolismo cerebral em áreas associadas ao planejamento (córtex pré-frontal) e ao processamento de estímulos emocionais (sistema límbico).
Os resultados apóiam a hipótese de que pessoas que se irritam mais facilmente são mais suscetíveis aos efeitos da substância e, logo, estão mais propensas a se tornar dependentes do tabaco. Para os autores, essa informação é relevante para aperfeiçoar as estratégias usadas em terapias comportamentais de suspensão do tabagismo.
Segundo os especialistas, orientar ex-fumantes para gerenciar melhor sua raiva em situações críticas pode promover alterações corticais e no sistema límbico, diminuindo os efeitos da abstinência e o risco de recaídas.
segunda-feira, 15 de junho de 2009
Reforma Psiquiátrica produz desassistência e morte
O número de mortes de doentes mentais cresceu 41% no país nos últimos anos. No mesmo período, um quarto dos leitos psiquiátricos foi fechado, sem uma contrapartida de criação de serviços de atendimento alternativos. São dados de um preocupante indicador: à desativação de leitos e à política antimanicomial em curso — fruto de distorcida visão segundo a qual, grosso modo, deve-se acabar com a internação em hospitais psiquiátricos — não sobreveio um programa para dotar os serviços de saúde mental de condições de dar conta das demandas.
Em decorrência, vive-se um quadro dramático. Nos últimos 20 anos, o governo brasileiro fechou 70% dos leitos psiquiátricos, gerando uma economia nos gastos com a manutenção desse tipo de serviço que não se reverteu no atendimento a doentes mentais. Um estudo da Associação Brasileira de Psiquiatria aponta que, neste período, houve corte de dois terços da verba para a área, e o investimento, que era de 5,8% do orçamento do Ministério da Saúde em 1995, caiu para 2,3%, em média, nesta década.
O resultado é palpável: o país, com 16,5 milhões de doentes que precisam de internação, em vez de investir na criação de leitos e vagas na rede de saúde, optou pela contramão, ao fechar hospitais psiquiátricos. O drama, evidentemente, é potencializado nos estratos mais baixos da sociedade, que não dispõem de recursos para cuidar dos seus doentes em casa ou em clínicas especializadas.
Quem lida no dia a dia com as dificuldades de conviver com um parente que sofre de problemas mentais tem a dimensão do problema — que, expresso pelo arrolamento de números frios, se torna visível nas ruas. Incontáveis famílias, sem condições econômicas de manter seus doentes, sem ter como tratá-los e sem opções de internação, optam por abandoná-los à sorte, o que, não raro, equivale a uma condenação à morte.
Acabar com o atendimento psiquiátrico fechado pode ser um objetivo desejável. Mas isso não se faz voltando as costas para a realidade do país, da qual salta um quadro aterrador, a ser enfrentado com uma política de saúde mental responsável, em condições de fazer frente a um problema que leva o drama dos doentes psiquiátricos para o interior de milhões de famílias.
Aumentar o contencioso dos serviços públicos de saúde, com o fechamento de hospitais psiquiátricos em vez de abrir novas unidades, é medida que atende a opções ideológicas, mas passa ao largo da solução do problema.
domingo, 14 de junho de 2009
Um quinto dos casos de intoxicação são tentativas de suicídio
Em um ano, mais de 20 mil pessoas tentam se matar ingerindo substâncias tóxicas. Cerca de 60% utilizam medicamentos, e o resto das tentativas dividem-se entre a ingestão de raticidas e agrotóxicos. Esses dados foram divulgados nesta segunda-feira (8) pelo Sinitox (Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas), da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
As informações são de 2007, quando foram registrados 23.243 casos de intoxicações suicidas. Isso representa 21,4% dos 108.405 envenamentos daquele ano. E dos 479 casos que terminaram em óbito, mais da metade foi notificada como suicídio. Rosany Bochner, coordenadora do Sinitox, diz que as tentativas de suicídio são um problema grave. “É uma coisa complicada de lidar, tem agente tóxico por aí que é barato, de fácil acesso e de alta letalidade, ou seja, difícil de controlar”, afirma.
Segundo Rosany, dos 37 Centros de Informação e Assistência Toxicológica espalhados pelo país, apenas uma minoria conta com psicólogos em suas equipes. “Uma pessoa que se intoxica querendo dar fim à vida, mesmo que seja curada, geralmente vai tentar de novo se não receber aconselhamento apropriado”, diz Rosany. O tratamento psicológico, afirma, é a melhor saída para diminuir o número de atentados contra a própria vida. Apesar de ser um quinto dos casos de envenenamento, o suicídio foi a causa de mais de metade das mortes.
Junto com Carlos Eduardo Estellita-Lins, pesquisador da Fiocruz, Rosany tem um projeto de estudar os casos de suicídio no Brasil, e aliar a psiquiatria ao seu trabalho. “O homem dá menos indícios de que quer se matar, mas, quando se mata, utiliza agentes tóxicos mais letais. Já a mulher demonstra maior mudança de comportamento, porém utiliza agentes menos tóxicos, como remédios”, aponta ela.
Em 2007, o Sinitox registrou 4.355 intoxicações a menos que no ano anterior. A queda ocorreu porque menos Centros de Informação e Assistência Toxicológica forneceram dados para a pesquisa. De um total de 37 centros, apenas 29 colaboraram, dois a menos que em 2006. A falta de adesão dos centros é um problema que atinge também outras áreas de pesquisa, como a da aids, e dificulta a identificação de tendências.
Mesmo assim, algumas conclusões do relatório podem direcionar políticas de conscientização da população. Os medicamentos estão envolvidos em 30% dos casos de intoxicação, independentemente das circunstâncias. O que gera isso é a forma banal como são tratados, diz Rosany.
Por causa do descuido, a faixa etária mais atingida por agentes tóxicos é de 1 a 4 anos. “As pessoas têm cerca de 20 medicamentos diferentes em casa, muitos mal utilizados e, pior, mal guardados”, afirma. Para esses tipos de intoxicação, Rosany diz que a prevenção é possível com mais campanhas de alerta aos pais, como mensagens obrigatórias em propagandas e rótulos.
sexta-feira, 12 de junho de 2009
Rivotril: a tarja preta mais vendida no País
A alta no consumo de um remédio, que só pode ser vendido com retenção da receita, é assunto polêmico entre a classe médica. Especialistas ouvidos pela reportagem do Último Segundo apontam pelo menos três fatores para explicar este consumo exagerado: uma preocupação maior com a saúde mental, a falta de consciência de alguns pacientes que ignoram a recomendação médica e o despreparo de parte dos profissionais de saúde.
Segundo o psiquiatra Edson Capone de Moraes Junior, da Universidade Estadual Paulista (UNESP), o modelo médico existente, que separa corpo e mente, contribui para o aumento nas prescrições do Rivotril. “Ao invés de atuar no problema, trata-se a consequência”, diz. “Há médicos que não diferenciam quadros de depressão, ansiedade e psicose, e para todos indicam o mesmo remédio”.
O psiquiatra afirma que o Rivotril – há 35 anos no mercado - passou a ser considerado uma das opções mais “seguras” pelos médicos por ter boa tolerância no organismo. “Você não erra muito. Ele é facilmente aceito pelos pacientes”, afirma, acrescentando que, se houvesse psiquiatras para realizar o diagnóstico correto, não seria necessário tanto Rivotril.
“Alguns médicos quando se deparam com pacientes com distúrbios mentais é comum iniciarem o tratamento com um ansiolítico. Então, se não resolvem o problema, passam para um antidepressivo”, afirma.
O psiquiatra e psicanalista Plinio Montagna, presidente da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, acrescenta ainda que, graças aos “bilhões de dólares injetados na publicidade de laboratórios farmacêuticos”, hoje não existe mais o receio em tomar uma medicação para distúrbios psiquiátricos. “Existe até certa glamorização da medicação”, considera.
Uso controlado
Para o Rivotril, não há consenso sobre o tempo seguro de uso. A dependência ao medicamento varia conforme a dose e a predisposição do paciente, mas, segundo Junior, o uso não deve passar de quatro meses. “Se o paciente é extremamente ansioso não posso tratá-lo com Rivotril a vida inteira”, afirma.
O Rivotril tem cinco ações principais no organismo. Serve como anticonvulsivante para casos de epilepsia, relaxante muscular, ansiolítico, hipnótico e sedativo, sendo que, na visão de Junior, são as três últimas funções que impulsionaram as suas vendas.
A princípio, ele era divulgado entre a classe médica apenas como um anticonvulsivante, sendo os seus demais usos conhecidos e ampliados nos últimos anos.
O medicamento é da classe dos benzodiazepínicos, como Lexotan, Valium, Diazepam e Frontal, e tem como princípio ativo o clonazepam. Junior explica que a substância é absorvida pelo organismo, passa pela circulação sanguínea e age em um sistema chamado Gabaérgico, inibindo a atividade cerebral e acalmando. “Ele é um dos mais potentes. Se tiver três benzodiazepínicos concorrendo no seu cérebro, ele chega primeiro”, afirma.
No entanto, Junior esclarece que apenas para casos de epilepsia ele é usado sozinho. Em casos de depressão e transtorno bipolar, por exemplo, é apenas adjuvante e serve para complementar o tratamento principal.
“Não vivo sem”
Mas muitos ignoram o uso correto do medicamento. A funcionária pública Luana Cardoso, de 24 anos, de Porto Alegre, é um exemplo de paciente que não segue o prescrito pelo médico. Ela afirma que toma Rivotril há seis anos “entre idas e vindas” e "faz de conta que segue as recomendações médicas", mas, na verdade, administra do seu jeito.
Após ter tido uma Síndrome do Pânico, o psiquiatra recomendou que tomasse dois comprimidos de Rivotril por dia, um pela manhã e outro à noite. Mas Luana só faz isso de segunda à quinta-feira. Aos finais de semana, não toma para poder ingerir bebida alcoólica. “Minha família toda usa Rivotril e como já vi o que acontece com quem usa e bebe prefiro não arriscar”, afirma. O medicamento potencializa o efeito do álcool e, em doses muito altas, pode levar ao coma. “O médico sempre diz que não o engano, só estou me enganando, mas não vou viver mais ou menos por causa de um remédio”, diz.
Um dos sinais de tolerância do corpo ao remédio é precisar de doses cada vez maiores para alcançar o efeito desejado, além do que o psiquiatra Junior chama de “necessidade subjetiva” do uso da substância. “Antes, o paciente tomava quando estava muito nervoso. Depois, a qualquer sinal de ansiedade”, afirma.
O estudante V.G.A, de 23 anos, é um dos que diz não conseguir mais viver sem o remédio. Começou a tomar há três anos por indicação do médico, após ter um surto psicótico, provocado, principalmente, segundo ele, pelo uso assíduo de maconha. “Era uma pessoa ansiosa e tinha sintomas de depressão, mas a cannabis mascarava isso”, considera.
Após o surto, quando V.G.A afirma que teve “pensamentos absurdos e mania de perseguição”, o médico o receitou um antidepressivo e 6 gotas de Rivotril por dia. “Hoje estou tomando 25 gotas por conta própria, à noite. Não durmo caso não tome. Me considero viciado”, conta.
O bancário e estudante de psicologia Danilo Perucci, de 22 anos, também não vive sem o remédio. Ele procurou um psiquiatra após ficar com insônia por problemas familiares. Para o sono, recebeu uma caixinha de Rivotril. Hoje, admite que faz um uso “cíclico” do medicamento, toma seis meses e para seis, sem seguir qualquer recomendação. “Uso por conta própria, só retorno para pegar outra receita”, confessa.
Perucci, que se diz “dependente psicológico” do remédio, afirma que nunca teve problemas para conseguir novas cartelas. “Eu vario entre três psiquiatras do meu plano de saúde que me receitam Rivotril sem muitas perguntas”, conta.
Saúde em risco
A partir de dois meses, médicos dizem que o uso deve estar sob constante monitoramento. Além da dependência química, que é o maior dos riscos e pode ser irreversível, o uso contínuo por anos pode causar perda de memória, irritabilidade e até mesmo depressão. Durante a gravidez, pode até mesmo causar aborto. “Como todos os sedativos do sistema nervoso central, em doses muito altas podem causar sonolência, reflexos diminuídos, confusão, coma, parada respiratória e, no extremo, morte. Mas as doses precisam ser muitíssimo altas”, acrescenta Montagna.
Para quem resolve parar com Rivotril o caminho nem sempre é fácil. O estudante de direito Luiz Roberto Blum, de 26 anos, demorou seis meses para conseguir. “Um psiquiatra me disse: ‘pare de tomar hoje’, mas eu não consegui ficar um dia sem. Tive sintomas de pânico e náuseas”, revela.
Aos poucos, Blum conseguiu substituir o remédio por outro ansiolítico, mas demorou seis meses para conseguir parar completamente. “O médico sempre me dizia para tomar somente quando necessário, o problema era que eu sempre achava necessário”, lembra.
Ansiedade necessária
De acordo com psiquiatras, a linha que separa a ansiedade natural daquela que deve ser tratada é delicada e, caso não seja avaliada com cuidado, o paciente corre o risco de eliminar emoções importantes para o desenvolvimento da mente. “Certo grau de ansiedade é necessário e inerente à condição humana”, afirma Junior.
Montagna completa que a ansiedade funciona como propulsora da ação e do pensamento. “É uma espécie de combustível para o funcionamento do ego. Podemos compará-la com a tensão das cordas de um violão. Se estão muito frouxas, não sai música. Se muito estiradas, podem até romper-se e também não haverá música. Num grau de tensão ótimo, aí, sim, podemos extrair música”, explica.
Mesmo quando considerada uma doença, os especialistas concordam em dizer que nem sempre o tratamento com remédios é a melhor opção. É preciso verificar os motivos que estão causando a ansiedade e atuar neles. “Muitas pessoas acham que tomando drogas de última geração estão sendo bem tratadas, mas, muitas vezes, é preciso diminuir as dosagens para que o paciente tenha outra dimensão do que acontece. A psicanálise pode ser bastante útil nesses casos”, completa Montagna.
Ranking dos medicamentos mais vendidos no PaísAté Março de 2009 | |
1° | Microvlar |
2° | Rivotril |
3° | Puran T-4 |
4° | Hipoglos Nf |
5° | Buscopan Composto |
6° | Neosaldina |
7° | Salonpas |
8° | Novalgina |
9° | Ciclo 21 |
10° | Sal De Eno |
2008 | |
1° | Microvlar |
2° | Rivotril |
3° | Puran T-4 |
4° | Hipoglos Nf |
5° | Neosaldina |
6° | Buscopan Composto |
7° | Salonpas |
8° | Tylenol |
9° | Novalgina |
10° | Ciclo 21 |
2004 | |
1° | Microvlar |
2° | Neosaldina |
3° | Hipoglos Nf |
4° | Buscopan Composto |
5° | Novalgina |
6° | Rivotril |
7° | Tylenol |
8° | Cataflam |
9° | Neovlar |
10° | Luftal |
quinta-feira, 11 de junho de 2009
EUA divulgam lista de remédios suspeitos de causar danos à saúde
A agência americana que regula remédios e alimentos (FDA) decidiu divulgar a cada três meses a lista de remédios suspeitos de provocar danos à saúde. A primeira relação, com 20 medicamentos, foi apresentada na última sexta-feira (confira a tabela ao fim do texto). São drogas que já estão no mercado, mas cuja segurança está sendo reavaliada. A FDA decidiu investigá-las depois de receber relatos de problemas comunicados por médicos, pacientes e pela indústria farmacêutica.
A FDA divulgará os nomes dos produtos e o tipo de efeito adverso observado. Não tornará público o número de reclamações recebidas nem a gravidade dos problemas observados. Remédios que aparecem na lista não são necessariamente inseguros – pelo menos nessa etapa da investigação. Em alguns casos, os problemas observados não são provocados propriamente pelas substâncias – e sim por embalagens e bulas confusas que podem levar ao consumo excessivo dos remédios.
No ano passado, a agência recebeu 482 mil relatos de reações potencialmente relacionadas ao uso de remédios. A maioria, segundo as autoridades, eram alarmes falsos. Não foi comprovada a relação entre os problemas relatados e as drogas usadas pelos pacientes. Nos últimos anos, a FDA vem sendo muito criticada pela demora em alertar a população sobre riscos potenciais de algumas drogas. A mudança é uma reação a essas críticas.
A novidade pode produzir dois efeitos: um bom e outro ruim. Ao alertar o público precocemente sobre problemas relacionados a determinados remédios, a agência pode evitar que mais pessoas sejam prejudicadas pelo medicamento. Mas a divulgação trimestral da lista pode provocar pânico. Muita gente pode deixar de tomar os remédios por conta própria – antes mesmo que fique comprovado que eles expõem a população a riscos. Nesse caso, a interrupção do tratamento pode ser tão ou mais nociva do que os potenciais efeitos adversos.
Divulgaremos neste blog apenas os remédios psiquiátricos sob investigação. Os dois medicamentos são vendidos no Brasil:
PRODUTO - RISCO POTENCIAL SOB INVESTIGAÇÃOCymbalta - Retenção urinária
Seroquel - Embalagem pode provocar confusão
*Cymbalta (duloxetina): antidepressivo
*Seroquel (quetiapina): antipsicótico
Para ver a lista completa de medicamentos, clique aqui.
quarta-feira, 10 de junho de 2009
A nova onda dos remédios para o cérebro
"Maurício não é um workaholic. Engenheiro de 40 anos, gerente de uma seguradora, ele acredita que a esta altura da vida tem direito a aproveitar suas horas livres nas baladas, viagens, leituras, esportes e namoros. É por isso que ele toma Ritalina, um remédio indicado para portadores de síndrome de deficit de atenção (TDAH). Maurício não sofre de deficit de atenção. Mas diz que, quando toma a droga, sua capacidade de concentração aumenta e ele trabalha seis horas sem intervalos. “Sou chefe de 40 funcionários e preciso funcionar a qualquer custo.”
Maurício (o nome é fictício, para proteger sua identidade) diz tomar Ritalina apenas uma vez por semana, quando seus prazos para a entrega de relatórios apertam. Ele afirma que a droga o ajuda a encarar planilhas recheadas de números, elaborar relatórios com rapidez e falar com desinibição em reuniões. “Como me recuso a trabalhar mais de nove horas por dia, preciso render mais nesse tempo.” Ritalina é um remédio de tarja negra. Deveria ser consumido apenas por pessoas que precisam dele e têm uma receita médica para provar isso. Mas conseguir a receita não é muito difícil. Maurício obteve a sua de um amigo psiquiatra. Outros usuários pesquisam os sintomas conhecidos do deficit de atenção, marcam consulta com um psiquiatra e dizem sentir aquilo. Alguns compram cartelas de amigos. Ou pela internet.
A Ritalina – que atua como um estimulante do sistema nervoso central – está longe de ser a única droga usada para incrementar a eficiência do cérebro. Há milênios o ser humano testa receitas de vários tipos. Entre aquelas em voga hoje está o Gingko biloba (uma erva de origem chinesa que supostamente melhora a circulação de sangue no cérebro e a transmissão de impulsos entre os neurônios), a cafeína (um estimulante que melhora a concentração), a nicotina e diversas anfetaminas. Também vem ganhando adeptos no mundo um estimulante genericamente conhecido como modafinil, desenvolvido para tratar narcolepsia (uma sensação de sonolência exagerada). O modafinil, assim como o café, restaura o desempenho cognitivo em pessoas com sinais de fadiga.
Segundo uma recente pesquisa da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, cientistas de diversos laboratórios estão trabalhando em mais de 600 drogas para distúrbios neurológicos. A maioria delas deverá ser reprovada pelos órgãos reguladores de saúde, mas é provável que muitas estejam em farmácias do mundo inteiro nos próximos anos. Cada uma dessas drogas mexe com algum dos processos químicos que regulam a atenção, a percepção, o aprendizado, a memória recente, a memória de fundo, a capacidade de tomar decisões, a linguagem. Espera-se que, com elas, pacientes com deficiências como Alzheimer, demência ou deficit de atenção consigam levar uma vida mais próxima do normal. Mas remédios desse tipo costumam atrair um mercado bem além do seu público-alvo original.
“O uso das drogas psicoativas por indivíduos saudáveis vai se tornar um evento crescente em nossa vida”, disse o pesquisador Gabriel Horn, que liderou a pesquisa de Cambridge. Foi o que aconteceu, por exemplo, com o Viagra e seus congêneres."
Fonte: Revista ÉPOCA
terça-feira, 9 de junho de 2009
Testes mascaram ineficácia de antidepressivos
Depois de uma década em que os antidepressivos ganharam enorme popularidade no mundo ocidental – chegando a registrar um aumento de venda de 42% entre 2003 e 2007 no Brasil e de 48% entre 1995 e 2002 nos Estados Unidos –, a eficácia desses remédios está sendo questionada por vários estudos em publicações médicas, segundo os quais boa parte dos benefícios advém do efeito placebo e alguns dos medicamentos mais famosos parecem funcionar apenas em graus leves de depressão. Em meio a esse quebra-cabeça de informações, uma pesquisa publicada em abril no American Journal of Psychiatry contribuiu com uma peça fundamental para esclarecer por que é crescente a impressão de que os antidepressivos não são tão eficazes: eles são testados em um grupo limitadíssimo de pacientes, que não representa uma fração significativa do mundo real.
A eficácia dos antidepressivos prevista nas bulas é medida por testes clínicos realizados pelas empresas farmacêuticas e que servem como base para a criteriosa Food and Drug Administration (FDA), a vigilância sanitária dos EUA, aprovar sua venda. Os testes, segundo o estudo, são bastante restritos quanto à escolha dos pacientes e acabam excluindo pessoas com comorbidades, ou seja, que sofrem de duas doenças ao mesmo tempo. Não participa, por exemplo, quem tem depressão e problemas cardíacos, ou mesmo depressão combinada com outras doenças psiquiátricas, como distúrbios de ansiedade. Partindo do princípio de que os testes são pouco representativos, o novo estudo, realizado por 11 pesquisadores liderados por Stephen Wisniewski, da Universidade de Pittsburgh, mostrou que esse aspecto mascara a eficácia dos antidepressivos, ou a falta dela.
“O que nós fizemos foi prescrever o mesmo tratamento dos testes em uma população que sabíamos ser mais abrangente”, disse Wisniewski a ÉPOCA. “E os resultados mostraram grande diferença”, afirma. A base para o estudo foi o projeto STAR*D, sigla de Alternativas de Tratamento Sequenciado para Aliviar a Depressão, financiado pelo governo americano e que coletou dados de 41 instituições psiquiátricas entre 2001 e 2004. Entre os excluídos estavam apenas mulheres grávidas e pessoas com distúrbios convulsivos e outras doenças agudas. Após a avaliação do perfil dos pacientes do STAR*D, surgiu a primeira descoberta significativa – 77,8% deles não poderiam participar dos testes feitos pela indústria farmacêutica.
Os pacientes, em seguida, foram divididos em dois grupos. O grupo de “não-eficácia” era formado pelas pessoas que teriam sido excluídas dos testes mais rígidos e o outro, da “eficácia”, tinha os 22,2% que passariam no filtro da indústria farmacêutica. Submetidos ao mesmo tratamento, com o Citalopram, um antidepressivo inibidor de recaptação de serotonina vendido no Brasil com os nomes comerciais de Cipramil, Procimax, Citta, Alcytam e Maxapran, os grupos tiveram resultados muito diferentes. O grupo de “eficácia” teve melhora em 51,6% dos casos, e o de “não-eficácia”, além de responder ao tratamento com mais demora, registrou melhoras em apenas 39,1% dos casos. Desta forma, dizem os pesquisadores no estudo, “a conclusão sugere que os testes atuais têm um resultado mais otimista do que é provável na prática e a duração do tratamento sugerida pode ser muito pequena”.
Assim, diante desses resultados, surge a questão: o que leva as indústrias farmacêuticas a fazerem testes tão restritos? Segundo Wisniewski, é o custo médico que testes mais abrangentes teriam. “Os resultados mostraram que o grupo de “não-eficácia” também teve uma taxa maior de efeitos colaterais graves”, afirma. “Se as empresas fizerem testes em grupos mais abrangentes, elas vão colocar um número maior de pessoas sob esse risco”, diz. “Um cenário possível, por exemplo, é um paciente entrar em um estado maníaco com a administração do medicamento."
Assim, enquanto a indústria farmacêutica não cria uma nova geração de antidepressivos, ou ao menos um método para ampliar a base de suas pesquisas sem aumentar o risco de efeitos colaterais graves, resolver esse problema fica a cargo dos médicos que vão prescrever esse tipo de medicamento. “Eles devem saber em qual população o remédio foi testado para ganhar a aprovação da FDA antes de passar o tratamento”, diz. “É preciso verificar se o paciente pode ser incluído nesse universo e, aí sim, o médico apresentaria as probabilidades mais realistas de resultados e de tempo de tratamento para o paciente”, afirma.
segunda-feira, 8 de junho de 2009
Maior parte de adolescentes americanos com depressão não está sendo tratada
Com base em uma pesquisa de âmbito nacional realizada em 2007, uma publicação da Substance Abuse and Mental Health Services Administration (SAMHSA) demonstra que adolescentes sem seguro saúde apresentavam uma probabilidade de obter tratamento menor do que a metade daqueles cobertos por Medicaid/Children's Health Insurance Program (CHIP) ou por planos de saúde particulares.
Além disso, a pesquisa revela que 8,2% (dois milhões) dos adolescentes entre 12 e 17 anos de idade sofreram, pelo menos, um episódio de depressão maior (EDM), no ano anterior. Somente 40% destes receberam tratamento, de acordo com o relatório da SAMHSA.
“Esta publicação contribui com a crescente conscientização de que se precisa fazer muito mais para suprir as enormes necessidades relacionadas com a saúde mental de nossos jovens”, disse o administrador suplente da organização, Eric Broderick, DDS, em uma declaração.
“Este relatório, juntamente ao decreto do Mental Health Parity and Addiction Equity Act e à recente e marcante publicação do National Research Council and Institute of Medicine sobre saúde mental infantil, destaca a crescente preocupação e o compromisso da nossa nação em atenuar o prejuízo e o sofrimento gerados pelo não tratamento de transtornos mentais para as crianças, assim como para suas famílias e comunidades”, acrescentou ele.
A publicação também evidenciou que a cobertura por seguro saúde foi o que mais determinou se os adolescentes com, no mínimo, um episódio de depressão maior recebiam ou não tratamento, no último ano. Entre os indivíduos nesta faixa etária, aqueles não cobertos apresentavam probabilidade muito menor de serem tratados (17,2%), do que aqueles com cobertura por Medicaid/CHIP (42,9%) ou por planos de saúde particulares (40,6%).
O relatório revelou ainda que, entre os adolescentes tratados:
* 58,8% viram ou conversaram com um orientador.
* 36,8% viram ou conversaram com um psicólogo.
* 27,3% viram ou conversaram com um psiquiatra ou com um psicoterapêuta.
* 26,6% viram ou conversaram com um clínico geral ou com um médico de família.
O trabalho foi elaborado a partir da pesquisa National Survey on Drug Use and Health de 2007, que coletou dados de uma amostra representativa de, aproximadamente, 22.000 adolescentes por todos os Estados Unidos.
domingo, 7 de junho de 2009
Aprovada lei de discriminação contra pessoas que sofrem de doenças mentais
Projeto de Lei - PL-854/2008
Estabelece aplicação de sanções aos que praticarem, no âmbito do Distrito Federal, atos de discriminação contra as pessoas cometidas de transtorno mental.
Art. 1°. Serão aplicadas sanções às pessoas físicas e jurídicas que, por qualquer meio ou forma, praticarem atos de discriminação em relação às pessoas acometidas de transtorno mental.
Parágrafo único. Considera-se acometida de transtorno mental, para os fins desta Lei, a pessoa que, diagnosticada e tratada em psiquiatria, ou não, demonstrar comportamento singular e diferenciado daquele considerado socialmente adequado.
Para ler o projeto de lei completo, baixe-o aqui.
Programa na TV Brasil
Iracema Polidoro é familiar de doente mental há muito respeitada por sua luta em defesa dos usuários de saúde mental. Ela é presidente da Associação de Parentes e Amigos dos Pacientes do Complexo Juliano Moreira (Apacojum).
Não Percam!
sábado, 6 de junho de 2009
Mais Informações sobre o Prêmio Cultural Loucos pela Diversidade
O edital, lançado no dia 12 de maio pelo Ministério da Cultura durante o Encontro Internacional Reformas Psiquiátricas e Transformação Cultural no Brasil e no Mundo: 30 anos da Lei Franco Basaglia - que aconteceu em Salvador (BA) - homenageia nesta primeira edição Austregésilo Carrano, um escritor brasileiro, integrante do Movimento da Luta Antimanicomial e autor do livro 'Canto dos Malditos' em que narra sua experiência nos hospitais psiquiátricos e denuncia os absurdos cometidos diariamente nessas instituições. O livro deu origem ao filme 'Bicho de Sete Cabeças'.
Paulo Amarante explica que o edital entregará 55 prêmios entre individuais e coletivos, totalizando o valor de 675 mil reais, por meio de patrocínio da Caixa Econômica Federal. "Esse projeto busca reconhecer iniciativas de artes produzidas por pessoas com algum tipo de sofrimento mental", destacou o pesquisador. O edital é uma das decorrências práticas mais importantes da 'Política Nacional Loucos pela Diversidade', criada a partir do seminário realizado na ENSP, em agosto de 2007, com a participação do então ministro da Cultura, Gilberto Gil.
O edital é dividido em quatro categorias: Iniciativas públicas; organização da sociedade civil; grupos autônomos; e pessoa física. Será adotado pelo edital o critério da regionalização, permitindo, assim, a premiação de todas as regiões brasileiras. Serão destinados cinco prêmios para a região Norte, cinco prêmios para a região Nordeste e cinco prêmios para a região Centro-Oeste, ao menos.
Para a escolha dos vencedores, será constituída uma comissão julgadora com artistas da área, e a perspectiva de Paulo Amarante é que a entrega do prêmio aconteça no dia 10 de outubro, Dia Mundial da Saúde Mental, durante solenidade na Caixa Cultural, localizada no Centro do Rio de Janeiro.
A íntegra do edital, bem como as fichas de inscrição e modelo de autorização de veiculação da obra criada estão disponíveis em formato pdf. Todo o material deverá ser enviado para o Laboratório de Estudos e Pesquisas em Saúde Mental e Atenção Psicossocial (Laps/ENSP/Fiocruz), responsável pelo concurso.
Para ler o Edital e inscrever-se, acesse clique aqui e vá em Anexos, no final da página.
sexta-feira, 5 de junho de 2009
Prêmio Cultural Loucos pela Diversidade
O anúncio fez parte do debate Loucura e Cultura que faz parte da Semana da Luta Antimanicomial, que neste ano tem como tema ‘Inclusão e Diver-Cidade’. O edital tem como objetivos promover uma nova visão de política cultural e da política de saúde mental onde o respeito à identidade e à diversidade constroem um país mais democrático no sentido de incluir, socializar, descentralizar e potencializar a todos o direito à criação e à produção cultural, promover e garantir o protagonismo das pessoas em sofrimento psíquico na construção das políticas públicas de cultura, na criação e produção cultural, entre outro que promovam a inclusão, a emancipação, a autonomia e o direito à cidadania de indivíduos em sofrimento psíquico.
Serão premiadas 55 iniciativas, divididas em quatro categorias. A primeira destinará sete prêmios para instituições públicas que atuam na interface saúde mental e cultura; na segunda oito prêmios serão destinados para organizações da sociedade civil, instituições privadas, entidades e associações sem fins lucrativos. A terceira categoria reservará 20 prêmios a grupos de pessoas sem vínculo institucional que tenham ou tenham tido vínculo como usuários de instituições ou serviços de saúde mental que desenvolvam atividades artístico-culturais.
As 20 premiações restantes serão destinadas para pessoas em sofrimento psíquico que tenham ou tiveram vínculo com instituições ou serviços de saúde mental que desenvolvam atividades artístico-culturais individualmente.
Nas categorias em que a premiação será destinada a instituições ou grupos de pessoas o valor será de R$ 15 mil, já para o prêmio individual o repasse será de R$ 7,5 mil. Cada candidato poderá inscrever-se em somente uma categoria e com até três iniciativas artísticas culturais. As inscrições podem ser feitas até o dia 13 de julho
Informações no site www.cultura.gov.br, pelo telefone (61) 3316-2129, SID/MinC, e (21) 2260-5999 ou pelo correio loucospordiversidade@
quinta-feira, 4 de junho de 2009
Transtorno bipolar está relacionado a taxas mais altas de mortalidade por suicídio e doença cardiovascular
Os estudos fizeram parte de um esforço realizado pela Spanish Society of Psychiatry para desenvolver consensos sobre a saúde física do paciente com transtorno bipolar, de acordo com Dr. Fernando Rico-Villademoros, da University of Alcalá, em Madri, Espanha.
“Um dos nossos achados mais importantes foi que, assim como suicídio, pacientes com transtorno bipolar têm taxas mais altas de mortalidade devido à doença cardiovascular. Entretanto, não existem dados fortes de que eles sofram de câncer em taxas maiores do que a população geral”, disse Dr. Rico-Villademoros à Medscape Psychiatry.
“As razões para taxas mais altas de morte por doença cardiovascular são multifatoriais – e provavelmente ocorrem devido às medicações que os pacientes tomam bem como ao estilo de vida”, ele acrescentou.
Taxas mais altas de doença cardio e cerebrovascular
Nos estudos, os pesquisadores buscaram na literatura publicada de 1966 a janeiro de 2008, mas limitaram-se a trabalhos publicados em inglês e espanhol.
Este estudo avaliou pesquisas que relatavam a mortalidade por todas as causas e por causa específica. Três outros estudos sobre câncer e infecção pelo HIV, comorbidades neurológicas, cardiovascular e respiratória incluiram trabalhos com um tamanho amostral de 30 ou mais pacientes, mas excluiu aqueles que avaliaram o efeito das comorbidades associadas a um tratamento especifico do transtorno bipolar, tal como lítio ou antipsicóticos. Os estudos não incluíram uma meta-análise e somente forneceram resultados descritivos sobre os estudos primários encontrados na busca literária.
No estudo sobre mortalidades, os pesquisadores observaram que a razão padronizada de mortalidade para suicídio em pacientes com transtorno bipolar variou de 8 a 20. Uma razão padronizada de 1 é uma taxa de mortalidade considerada igual a da população de referência. Pacientes com transtorno bipolar também morreram de doenças do sistema circulatório – incluindo doença cardio e cerebrovascular – em taxas maiores do que a população em geral, e 2 estudos mostraram uma taxa de mortalidade maior devido à infecção.
Em um estudo que avaliou as comorbidades cardiovasculares e cardiorrespiratórias, os pesquisadores mostraram que o transtorno bipolar esteve associado às taxas maiores de asma e DPOC, e menos consistentemente com uma taxa aumentada de hipertensão. Não houve associação entre o transtorno bipolar e derrame.
Achado sobre migrânea é difícil de explicar
Outro estudo sobre as comorbidades neurológicas observou que pacientes com transtorno bipolar pareciam sofrem de incidência aumentada de migrânea comparado com a população em geral – um achado que é difícil de explicar, disse Dr. Rico-Villademoros.
Também houve uma associação entre transtorno bipolar e demência; um achado que os pesquisadores disseram que devia ser investigado mais profundamente. Entretanto, devido ao número limitado de estudos avaliando estas anormalidades neurológicas – 21 ao todo – eles também observaram que os achados sobre esses riscos devem ser interpretados com precaução.
Os pesquisadores também observaram que o risco de câncer e infecção pelo HIV e encontraram um número limitado de estudo sobre esses pacientes – 5 sobre morbidade do câncer e 8 sobre infecção do HIV. Embora seus dados não sejam conclusivos, eles observaram que o transtorno bipolar pode estar associado a uma taxa maior de HIV, mas não câncer.
Quando juntas, as pesquisas apontam a importância de se avaliar os fatores de risco para comorbidades em pacientes com transtorno bipolar, incluindo fatores risco de doença cardiovascular, e aqueles para infecção, incluindo uso de drogas, disse Dr. Rico-Villademoros.
“Embora nós sempre nos concentremos no suicídio, é importante levar em consideração outros fatores”.
Os dados sustentam a experiência clínica
“Esses estudos são completamente coerentes com o ponto de vista da maioria dos clínicos – e é bom ter dados para apoiar nosso conhecimento sobre os riscos de suicídio, bem como sobre doença cardiovascular em pacientes com transtorno bipolar” comentou Dr. David Baron, da Temple University School of Medicine, Philadelphia, Pennsylvania, e membro do comitê do programa científico da APA.
“O estudo sobre mortalidade ressalta a verdade de que a doença psiquiátrica é um transtorno que ameaça a vida. Muitas pessoas acham que aqueles com transtorno bipolar são só tristes ou maníacos, mas esta realmente é uma doença biopsicossocial”, Dr. Baron acrescentou.
quarta-feira, 3 de junho de 2009
Lítio na água pode prevenir suicídios
Oita é uma região administrativa do Japão formada 18 municípios, com uma população total de 1,2 milhão de habitantes. A concentração de lítio na água potável que abastece essas cidades é muito baixa, mas bastante variável (entre 0,7 e 59 microgramas/litro), o que permitiu detectar taxas de mortalidade por suicídio significativamente menores onde a concentração do elemento na água era maior.
Os resultados do estudo suscitam questões eticamente delicadas. Já que baixíssimas concentrações de lítio aparentemente não têm conseqüências para as pessoas saudáveis, seria aceitável suplementar a água potável de populações inteiras para diminuir o risco de suicídio em um pequeno grupo de pessoas com transtorno de humor? Segundo os autores, ainda é cedo para se pensar nisso; mais estudos são necessários para se avaliar os possíveis custos e benefícios de tal medida.
terça-feira, 2 de junho de 2009
Ela não queria que a filha "salvasse o mundo"
A pedagoga Heloísa Bergamo tinha em mãos duas cartas de psiquiatras pedindo a internação de sua filha, Jacqueline, de 14 anos. Era outubro de 2005 e durante quatro dias Heloísa percorrera hospitais de São Paulo em busca de uma vaga. Havia quase um ano e meio que ela espreitava 24 horas por dia os pensamentos da filha. Na medida em que isso é possível – e em que só as mães são capazes. Em junho de 2004, a menina alegre, cheia de amigos e que estava aprendendo a tocar viola e pandeiro começara a mudar de comportamento. Tornou-se fechada. Não queria mais ir à escola. Dizia que ninguém gostava dela. Eram os primeiros sintomas do transtorno bipolar, um distúrbio psiquiátrico em que a pessoa alterna momentos de euforia ou irritação com depressão profunda. É durante essas variações de humor, causadas por um desequilíbrio na química cerebral, que até 30% dos doentes tentam tirar a própria vida. Metade acaba conseguindo.
Heloísa sabotara todos os planos de Jacque de “salvar o mundo”. Era essa frase que a adolescente repetia quando mais uma crise começava, em uma lógica que talvez nem ela mesma entendesse.
Heloísa impedira as tentativas de Jacque de saltar do carro em movimento. Seu lugar era no banco da frente, ao lado da mãe, que dirigia vigiando o fecho do cinto de segurança. Interceptara as incontáveis corridas da filha de sua casa, no centro de São Paulo, em direção à Avenida Nove de Julho, uma das mais movimentadas da cidade. Nos carros e ônibus que passam em alta velocidade, Jacque via uma oportunidade de “salvação”. No apartamento recém-alugado pela família, o encanto de Jacque - como aquele dos marujos pelas sereias, explica a mãe - era pelas janelas. As redes de proteção, cuidadosamente instaladas nas janelas do apartamento no quinto andar, eram para Jacque a cera que o herói da mitologia grega Odisseu colocou nos ouvidos para não sucumbir aos encantos das sereias.
A internação era a última alternativa para impedir que Jacque “salvasse o mundo”. Heloísa já não conseguia conter a filha fisicamente. Jacque estava crescendo. Heloísa, enfraquecendo, esgotada com a dedicação integral à filha. Acumulava sozinha a administração de sua escola infantil e os cuidados com as filhas, Jacque e Aline, de 15 anos. Não contava com a ajuda diária do ex-marido nem da mãe, paralisada por um acidente vascular, e do pai, que sofre com um enfisema pulmonar. Os dias de trabalho eram precedidos por noites sem dormir, tentando impedir que a filha fugisse, arranhasse o rosto, se ferisse com um garfo, uma caneta ou que estivesse à mão.
A médica que atendia Jacque havia mais de um ano no Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo pediu sua internação. Não adiantou. Na carta de 18 de outubro de 2005, dirigida a outro médico que viesse a atender Jacque, a explicação. “Optamos por interná-la, porém, sem vaga”. Heloísa saiu do hospital com a carta em uma mão, segurando a filha com a outra e sem saber para onde ir. “Com minha filha se debatendo e querendo fugir, como eu poderia ficar perambulando de hospital em hospital à procura de internação?”. A solução foi retornar para casa. E voltar no dia seguinte, quando tampouco havia vagas.
Segundo uma informação divulgada esta semana pelo hospital, ainda levaria alguns meses até que elas surgissem. Em outubro de 2005, todos os leitos da psiquiatria infantil do Hospital das Clínicas estavam desativados porque a unidade estava em reforma. Hoje, são dez em funcionamento, ocupados 98% do tempo, e que continuam sendo um dos poucos em São Paulo reservados para crianças e adolescentes com alguma doença psiquiátrica. Na época, a assistente social do hospital garantiu que Jacque estava na fila, esperando um leito psiquiátrico vagar em algum hospital público de São Paulo.
Heloísa sabia que não podia esperar. Foi para um pronto-atendimento de psiquiatria, que estava incluído na cobertura de seu plano de saúde. Era para lá que levava a filha sempre que ela tinha uma crise nos finais de semana. Jacque recebia mais medicamento, acalmava e voltava para casa.“Era sempre um jogo de empurra: o Hospital das Clínicas dizia que era para levar a Jacque em caso de emergência para esse pronto-atendimento. Nesse lugar, davam mais remédios e mandavam antecipar a consulta semanal no Hospital das Clínicas.” Desta vez, à procura de internação, Heloísa descobriu que o pronto-atendimento não contava com leitos para crianças. Levou Jacque para o pronto-socorro de outro hospital. O psiquiatra aplicou sedativos em Jacque e a mandou embora para casa. “É isso o que eles fazem. A pessoa se acalma e eles mandam embora para casa. Mas e quando o efeito do remédio acabar?.” No prontuário de Jacque, o médico escreveu “risco de suicídio”, recomendou internação e deu alta. Cansada, Heloísa levou Jacque para casa.
No dia seguinte, o segundo depois de a médica indicar internação, Heloísa voltou com a filha ao Hospital das Clínicas. Recebeu a recomendação de interná-la provisoriamente em um pronto-socorro, mantido pela Prefeitura de São Paulo, até que surgisse uma vaga. Foi para lá. “Eu nunca deixaria a minha filha naquele lugar. Ela tinha de ficar sentada em uma cadeira. Os remédios dela o padrinho foi buscar em casa porque lá não tinha. Era uma enfermeira cuidando de homens e mulheres, todos misturados.” Heloísa decidiu levar Jacque para casa e ficar aguardando o telefonema que avisaria sobre a vaga.
Jacque amanheceu tranquila no dia seguinte, o terceiro na busca de Heloísa por internação. “Eu não sabia que o perigo é quando eles se acalmam”, diz Heloísa. “Sem aquele turbilhão de emoções da crise, conseguem colocar seus planos em prática.” Heloísa avisou na escola que não iria mais trabalhar. Ficaria em casa, de plantão, até receber a ligação que avisaria sobre a vaga. Passou o dia arrumando o apartamento, para onde tinha se mudado há seis dias. Ela morava com as duas filhas em um anexo de sua escola infantil, e achava que lá Jacque não tinha sossego para descansar. Também temia que a filha tentasse “salvar o mundo” na frente dos alunos, crianças com no máximo seis anos de idade.
No fim da tarde, Jacque aceitou o convite da irmã para curtir a piscina do prédio. Heloísa, sem avistar nenhum perigo no térreo do edifício, deixou as duas na piscina e saiu para comprar alguns itens que precisava na vizinhança. Quando estava voltando para casa, viu uma manicure e resolveu fazer as unhas. Mal se sentou e carros de resgate passaram pela rua, com as sirenes ligadas. Decidiu acreditar que não podia ser em sua casa. Mas só até o telefone tocar. Aline, sua filha mais velha, avisava que Jacque pedira para voltar ao apartamento para dormir. Enquanto a irmã assistia à televisão, vigiando a porta do quarto, Jacque conseguira passar para o banheiro e trancar a porta por dentro. Aproveitou-se da única janela em que a empresa de telas de proteção não instalara uma rede: aquelas basculantes, bem pequenas, típicas de banheiro. Jogou-se. Jacque sofreu múltiplas fraturas pelo corpo e na cabeça. Foi operada, ficou dois dias em coma. Deu por cumprida sua missão de “salvar o mundo” no meio da tarde do domingo, 23 de outubro de 2005.
“Você vai escrever que eu estava fazendo a unha”, pergunta Heloísa. “Parece o cúmulo da irresponsabilidade.” Talvez para alguém que não consiga se colocar no lugar de uma mãe que colocou a própria vida em segundo plano para cuidar da filha. Mas a maioria das pessoas subentende na pergunta de Heloísa a culpa com a qual ela terá de conviver. Mesmo sem ter nenhuma. “Depois da morte da Jacque fiquei sem viver dois anos. Entrei em depressão, só dormia, descuidei do meu trabalho. Quem tocava a escola eram as minhas funcionárias. Ainda estou tentando retomar a minha vida. Mas não tenho concentração nem capacidade criativa.”
A irmã de Jacque, Aline, também sofreu com a doença da irmã. Ela tinha 14 anos na época em que os primeiros sintomas de Jacque começaram a aparecer. Ressentia-se da atenção excessiva que a mãe dedicava à irmã. Chegou a tomar um punhado dos remédios de Jacque de uma só vez para tentar se matar. A combinação de remédios a deixou dopada por algumas horas. “Ela dizia que era melhor morrer do que viver daquele jeito”, diz Heloísa, que decidiu mandar Aline para a casa de uma amiga em Itatiba, cidade a 80 quilômetros de São Paulo. Aline passou todo o segundo semestre de 2004 no interior, estudando em uma escola local. Eram raros os finais de semana em que Heloísa conseguia visitá-la. Viajar com Jacque era um risco: ela tentava abrir a porta e se jogar do carro em movimento. “A doença acabou separando a família.”
Hoje, Heloísa mora em uma casa, na mesma rua onde fica sua escola. De lá consegue avistar o prédio de onde Jacque se jogou. Está processando o governo do Estado de São Paulo pela falta de leitos psiquiátricos. “Tenho certeza de que Jacque não teria conseguido se matar se tivéssemos encontrado uma vaga”, afirma Heloísa. “Quem sabe ela teria uma chance de aprender a conviver com sua doença.”
segunda-feira, 1 de junho de 2009
Transtorno bipolar e sua biomitologia
"Dói internar um filho. Às vezes não há outro jeito"
Quando o escritor Ferreira Gullar publicou em 1999 o poema “Internação” (leia ao lado), já era um veterano na convivência com doentes mentais. Quem fez a observação sobre o vento foi Paulo, seu filho mais velho, que hoje tem 50 anos. Ele sofre de esquizofrenia, doença caracterizada, entre outras coisas, por dificuldade em distinguir o real do imaginado. Desde os anos 70, Gullar tenta administrar a moléstia. Fazia o mesmo com Marcos, o filho dois anos mais jovem, que também tinha esquizofrenia e morreu de cirrose hepática em 1992. Remédios modernos permitem que pessoas como Paulo passem longos períodos em estado praticamente normal. Sem alucinações, sem agitação, sem agressividade. Mas o tratamento só funciona se o doente tomar os medicamentos antipsicóticos todos os dias e na dose certa. Isso nem sempre acontece. O resultado são os surtos, quando o paciente se torna quase incontrolável.
Pode cometer suicídio ou agredir quem está por perto. Nesses momentos, esses doentes costumam precisar de internação. “Dói ter de internar um filho”, diz Gullar, hoje com 78 anos. “Às vezes, não há outro jeito.”
No Brasil, estima-se que haja 17 milhões de pessoas com algum transtorno mental grave – como esquizofrenia, depressão, transtorno bipolar, transtorno obsessivo-compulsivo. Em algum momento, eles podem precisar de um hospital psiquiátrico. Encontrar uma vaga, porém, tornou-se uma tarefa difícil.
Nos últimos 20 anos, quase 70% dos leitos psiquiátricos do país foram fechados. Sem conseguir quem os ajude a cuidar dos doentes, pais e irmãos afirmam ter várias dimensões de sua vida pessoal comprometidas, dos compromissos de trabalho às amizades. É o que revela uma pesquisa feita em 2006 em Minas Gerais com 150 famílias com pessoas atendidas nos Centros de Referência em Saúde Mental. Em muitos casos, os doentes em surto fogem sem deixar rastro. Podem acabar embaixo dos viadutos. O aumento da população de rua nas grandes cidades não é fruto exclusivo da desigualdade social. Uma pesquisa feita em 1999 com moradores de rua em Juiz de Fora conclui que 10% deles eram psicóticos sem assistência.
“As famílias, principalmente as que não têm recursos, não têm mais onde pôr seus filhos”, diz Gullar. “Eles viram mendigos loucos, mendigos delirantes que podem agredir alguém. O Ministério da Saúde tem de olhar para isso.” Gullar decidiu expor publicamente um problema que não é só seu. Nas últimas semanas, escreveu três artigos sobre o assunto em sua coluna no jornal Folha de S.Paulo. “Não pretendo liderar movimento algum. Sou um cidadão que tem uma tribuna e pode falar sobre o que está errado.”
Ele afirmou, no primeiro texto, que a campanha contra a internação de doentes mentais é uma forma de demagogia. Foi o suficiente para fazer eclodir uma controvérsia latente. Nos dias seguintes, dezenas de leitores enviaram cartas ao jornal. Representavam dois grupos. O primeiro, em apoio a Gullar, aponta as razões fisiológicas da doença mental e considera que a internação é um instrumento necessário nos momentos de surto.
O segundo, contra ele, afirma que os doentes devem ser atendidos em Centros de Atenção Psicossocial (Caps). Nesses locais, o paciente recebe medicação e acompanhamento semanal. A ideia é atendê-lo sem retirá-lo do convívio da família e da comunidade. Para esse grupo, mesmo nos momentos de crise, o doente deve ser atendido nos Caps. Ele passaria alguns dias internado na própria instituição (ou em hospitais comuns, com alas psiquiátricas) e depois voltaria para casa. “O hospital é um lugar de isolamento, funciona como uma prisão. As pessoas vão e não voltam”, diz Humberto Verona, presidente do Conselho Federal de Psicologia. “Algumas famílias querem que a pessoa fique internada. É a ideia da instituição como depósito.”
Gullar se ofende com comentários como esse, que ouve desde o final dos anos 80, quando a reforma psiquiátrica que levou à situação atual começou a ser discutida no Brasil. “Essas pessoas não sabem o que é conviver com esquizofrênicos, que muitas vezes ameaçam se matar ou matar alguém. Elas têm a audácia de fingir que amam mais a meus filhos do que eu.”