sábado, 30 de novembro de 2013

Sanatório RIO DE JANEIRO

Sanatório RIO DE JANEIRO


Estêvão estava em uma ambulância com seu irmão Ezequias, mas não estava ferido. Nem seu irmão. Ele estava em uma ambulância, pela primeira vez na sua vida, se ele bem se lembra. Ele estava a caminho de uma certa casa e ele poderia facilmente lembrar que na placa se lia Sanatório RIO DE JANEIRO. Seus colegas doentes internados sempre tinham falado sobre viagens agradáveis pra casa, em uma ambulância, mas desta vez ele sabia que a ambulância o estava levando para uma internação, nesse lugar, que com certeza era outro hospital psiquiátrico, entre os outros, em que ele havia sido internado. Novamente! Inacreditável! Novamente!

Estêvão foi levado para uma sala na qual uma certa (suposta) médica iria examiná-lo. Seu irmão era Ezequias, estava sempre lá.
"Você tem manchas no corpo?" Perguntou ela. Estêvão pensou que ele tinha ouvido mal.
"Você tem alguma mancha no corpo?" Ela disse novamente. Ele não tinha ouvido mal. Ela parecia estar falando sério. Mas por que ela iria perguntar sobre manchas em seu corpo quando ela era uma médica de cabeça? Isso é um hospital psiquiátrico, e não um consultório de dermatologista. Será que ela estava brincando? Ou será que ela estava tentando fingir ser uma médica de verdade? (Porque psiquiatria não tinha qualquer base científica, um psiquiatra, por conseguinte, não era médico de verdade na concepção de Estêvão) Estêvão Então pensou, "Bem talvez suas intenções sejam boas."


Estêvão então começou a mostrar suas manchas.
"Eu tenho uma mancha neste braço." Disse ele mostrando o braço esquerdo, "Não, na verdade é no braço direito." Stephen concluiu agora mostrando o braço direito, sobre a qual estava a marca da vacina que ele tomou quando ele era criança. Depois, ele lembrou da mancha que ele tinha no pênis. Ele hesitou por um segundo e pensou: "Bem, se ela é realmente profissional, ela vai consultar o minha mancha e não haverá nenhum problema. Pois qualquer alvoroço apenas provaria que esse negócio de médico era tudo cascata, charlatanismo. (Afinal, é super-normal para médicos de verdade ver pessoas nuas) Então ele puxou o seu pênis, "Bem, eu tenho uma mancha aqui, você vê? Eu vou virar (o pênis) para que você possa vê-la melhor ... "Eles se assustaram e uma grande agitação começou.


Próxima coisa que Estêvão se lembra foi que ele estava sendo levado escada acima por um cara com dentes brancos que pareciam dentes de coelho. Esse cara parecia com o Enfermeiro Esquilo do Centro Psiquiátrico D. Pedro II. Os seus dentes eram realmente semelhantes. E, provavelmente, o cara de coelho era enfermeiro também. Enquanto Estêvão era conduzido até a escada ele não parava de fazer trocadilhos, sempre tentando ser engraçado. Mas enquanto ele tentava chamar a atenção do Enfermeiro Coelho para alguma coisa engraçada o enfermeiro apenas dizia, "Certo, certo ... Claro. Estêvão. Sei, sim ..." Sempre olhando em frente, sorridente e ao sorrir, deixava a mostra os seus grandes dentes brancos.


Sem dúvida o cara levou Estêvão muitos degraus acima e finalmente o Enfermeiro Coelho lhe mostrou uma cama e disse, "deite aí!"
Estêvão se deitou, pois ele queria cooperar ao máximo. Ele queria acabar com aquilo o mais rápido possível. Ele queria fazer tudo o que seu irmão Ezequias queria. Ele queria fazer tudo o que ele quisessem que ele fizesse, para acabar logo com aquela chateação.
"Coloque o braço aí!" Disse o Enfermeiro Coelho. Estêvão obedeceu, sempre com bom humor. Ele estava brincando o tempo todo, mas sempre querendo colaborar com seriedade.


Estêvão deitou lá relaxado, pois se eles queriam que ele ficasse quietinho ele ia obedecer. Ele iria fazer tudo o que queriam só para ser liberado , o mais rapidamente possível. Ele estava à esperando que seu irmão Ezequias viesse levá-lo para casa.
"Coloque o outro braço lá!" Disse o Enfermeiro Coelho novamente. Estêvão obedecia sempre. Estêvão viu que tão logo o Enfermeiro Coelho amarrou seu braço direito foi também amarrar seu braço esquerdo. Ele se mexia, altamente surpreso, tentando entender o que estava acontecendo.
"O que você está fazendo, Marcio? (Marcio era o nome do enfermeiro) Você está me prendendo! Por que você está fazendo isso?
"Deixe-me amarrar este braço," disse o Enfermeiro Coelho, sem dar a mínima.
"Ok, mas você vai me soltar logo, não vai?"
"Sim", respondeu o enfermeiro.
O Enfermeiro Coelho não cumpriu com sua palavra e não desamarrou as mãos de Estêvão. Muito pelo contrário. Ele covardemente amarrou também as pernas de Estêvão, baixo protestos desesperados.


"Ei, Marcio, você disse que ia me desamarrar! Deixe-me ir!" Estêvão reclamou, horrorizado com o que o Enfermeiro Coelho tinha feito. Estêvão foi amarrado a uma cama e o Enfermeiro Coelho disse, "eu só amarrei você para que você possa ficar calmo. Quando você ficar calminho eu vou te desamarrar".
"Olha, Marcio, eu estou falando com você. Isso mostra claramente que estou sob controle. Apenas me solte. Eu só estava brincando! Não vou brincar mais! Não vou mais fazer besteira", implorou Estêvão . "Não há necessidade de me manter amarrado!"
"Quando você se acalmar eu te solto." E o Enfermeiro Coelho se afastou...

SOLTE-SE


Estêvão podia ver exatamente como ele estava amarrado: seus punhos estavam presos, mas ao longo de seu corpo. Suas mãos podiam se mover até cerca de trinta centímetros (um pé) e com algum esforço suas mãos podiam tocar sua boca. Suas pernas estavam presas também. Havia uma corda ao redor da cintura dele e ao redor da cama, por isso ele não podia levantar muito o corpo.
Estêvão sabia que ele estava tomando seu medicamento certinho. Sua mãe lhe dava a medicação e podia confirmar que ele não estava faltando com o remédio. Então, por que razão o seu irmão Ezequias insistia tanto em levar Estêvão para o Centro Psiquiátrico? Estêvão tinha ido ao hospital psiquiátrico com seu irmão Ezequias, porque ele achava que seu irmão queria cuidar dele, examiná-lo, e não interná-lo. Que erro. Que ingenuidade. Ele devia saber. Estêvão estava na esperança de que Ezequias viria levá-lo para casa, mas agora ele podia ver que seu irmão nunca iria aparecer. Não para levá-lo para casa. Nunca.


As mãos de Estêvão mal podiam se tocar, mas ao menos as mãos dele podiam tocar sua boca. Stephen tinha livre para si próprio, pois ele teve de ser paciente. Ele era um lutador Kung Fu, um artista marcial, e ele tinha sido treinado para tal situação (embora ele nunca tivesse pensado que, em um período de sua vida ele seria amarrado com tanta freqüência. Muito pelo contrário. Ele pensava que tal coisa nunca iria aconteça, ele pensava que tal absurdo era impossível de acontecer.) Era melhor relaxar os músculos primeiro. As outras vezes que ele tinha sido amarrado ele quase nem tinha tentado escapar, pois os enfermeiros estavam sempre por perto. Mas agora o Enfermeiro Coelho o tinha deixado sozinho.


Primeiro Estêvão tentou afrouxar a corda em volta seus punhos as pontas dos dedos. Ele puxou as cordas com cuidado e lentamente. Aqueles eram cordas coloridas, como as faixas de artes marciais, como as faixas de karaté. Mas as cordas estavam um pouco apertadas, e isso só estava machucando as pontas dos dedos. Por isso ele mudou de estratégia. Ele começou a mordicar e puxar as cordas com os seus dentes. Que trabalho duro! Logo a corda que envolvia seu pulso direito foi solta! Agora com uma pequena ajuda das pontas dos dedos de sua mão esquerda ele completamente libertou seu pulso direito. Seu braço direito estava livre!


Ele pensou que seria mais fácil para libertar o seu braço esquerdo, agora que o seu braço direito já estava livre. Ledo engano! A corda que estava ao redor de de seu pulso esquerdo estava bem mais apertada! Muito mais apertada! Ele pensou que, talvez no esforço para libertar seu braço direito ele tivesse acidentalmente forçado mais ainda a corda que estava ao redor de seu pulso esquerdo e, conseqüentemente a apertado mais ainda. Um erro. Em seguida, estêvão arrumou um jeito mais fácil de escapar. Uma vez que ele não podia soltar seu pulso esquerdo ele podia ao menos deixá-las mais frouxas para ficar mais confortável (pois as cordas estavam bem apertadas). Em vez de insistir em soltar o pulso esquerdo ele decidiu relaxar. Os cabos foram tão solto como a permitir-lhe para se sentar. Havia uma corda ao redor de sua cintura também. Isto tornou difícil para ele desamarrar os pés, mas mesmo assim ele poderia sentar numa posição bem confortável. Então ele pegou um livro que estava enfiado no bolso de sua camisa __ um pocket book. E ele começou a lê-lo. Relaxadamente.

ENROLADO


Estêvão chegou a ler quase 2 páginas da novela Monte Verità. (Ele levou mais tempo do que se poderia pensar, pois Estêvão não era fluente na leitura deste texto.) Estêvão observou que o Enfermeiro Coelho estava demorando muito para voltar. Ele havia prometido que ele voltaria logo para soltar Estêvão. Por isso Estêvão decidiu colocar o livro de volta no bolso e tentar se soltar de novo. Pois bem,somente o braço direito estava solto. Todo o resto de seu corpo estava amarrado à cama. Ele tinha conseguido soltar esse braço, mas ... Ele pensou que se ele fizesse uma forte pressão na a cama essa pudesse ceder e quebrar, o que acabaria por ajudá-lo a escapar. Ele estava ciente de que ele poderia se machucar seriamente quando quebrasse a cama, mas valia a pena o risco. Então ele levantou o próprio corpo o mais que podia se jogou com todo seu peso, força e pressão, esperando que assim a cama cedesse. Em vão. Ele teve de encarar o fato de que era uma cama de ferro, uma cama de ferro bem firme. Isso iria funcionar se fosse uma cama de madeira.
Ele tinha notado que as cordas estavam muito bem emaranhadas. As cordas passavam pela estrutura da cama e estavam amarradas aos pés da cama, onde, matematicamente, Estêvão não podia chegar. No entanto Estêvão teve outra ideia baseada na pressão. Ele iria projetar seu corpo a da cama para o chão, para que o peso do seu corpo forçasse a corda até que as cordas cedessem. Ele fez exatamente isso. Mas algo não deu certo. A cama era alta demais. Cerca de 50 centímetros. Stephen não conseguiu chegar ao chão! Ele ficou pendurado na cama, ficou preso em uma situação muito desagradável! Ele queria chegar ao chão, arrebentar a corda através da pressão da sua queda e tentar ir para debaixo da cama para chegar ao pé da cama e desatar os nós das cordas.
Pendurado na cama em uma situação desconfortável Estêvão se arrependeu amargamente do que tinha feito. Ele tentou subir à cama de novo. Agora, ele percebeu que ele estava mais confortável antes. Ele estava amarrado, mas ele já tinha soltado um braço e podia sentar e ler, mas agora ... Agora ele estava mais preso do que nunca! Isso só porque ele queria morder mais do que ele podia mastigar. Talvez ele apenas estivesse tentando provar que ele poderia se soltar completamente como ele nunca tinha visto ninguém fazer. Pura vaidade. Puro orgulho. Agora, ele estava pagando o preço por isso. Ele estava pendurado na cama, numa posição bem desagradável... Ele mal podia se mover, muito menos ler o livro.


Finalmente passaram por lá dois internos e Estêvão buscou chamar a atenção deles.
"Ei, me solte. Por favor!"

Quando Estêvão viu os internos uma nova esperança cresceu em seu coração, pois ele estava certo de que ele seria solto.

"Ora, você já está quase conseguindo se soltar. Continue tentando que você logo vai conseguir se soltar sozinho", disse um deles. E eles caminharam pelo corredor até ficarem fora da vista de Estêvão. Estêvão pesou a situação por uns instantes, pensou na situação por uns minutos. Ele percebeu que ele estava sendo ingênuo. Aqueles pessoal internado não iria estar a fim de se envolver. E o enfermeiro não cumpriu com sua palavra. O enfermeiro mentiroso não tinha cumprido sua palavra. O Enfermeiro Coelho não veio soltar Estêvão logo, como ele havia prometido. Pois bem, Estêvão ficou resmungando com revolta e ironia, e cruzou os braços (ele podia fazer isso, pelo menos!) resmungando, braços cruzados, Estêvão esperou. Esperou. Esperou.


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